Valores: paixão, persistência
Idade: 47 anos
Naturalidade: Manaus
O espírito guerreiro está no sangue desta criadora de biojóias, que promove nos seus produtos a biodiversidade Amazónica, aliada a um design inovador. Com uma carreira de 20 anos, esta empresária já teve muitos altos e baixos, mas desistir nunca fez partes dos seus planos. Rita Prossi adora o que faz e orgulha-se de muitas celebridades internacionais usarem os seus colares.
Fui criada no interior do Amazonas. Até aos sete anos vivi numa fazenda. Toda esta inspiração da Amazónia brotou em mim por eu ter passado esses tempos na fazenda. Lembro-me do meu pai, à noite, colocar na varanda os trabalhadores e contava lendas, a história do boto, da cobra grande... Eu fui criada nesse meio.
Sempre admirei o meu pai por ele ter muitos dons, sem nunca lhe terem ensinado. Ele construía barcos grandes, casas, esculpia as portas, fazia móveis com aqueles desenhinhos todos. Já a minha mãe, fazia roupas maravilhosas a olho.. Tenho 11 irmãos e fomos criados por estes dois artistas, que nos deram muita imaginação... A maior parte de nós foi para o lado artístico e a que não foi tem lá alguma coisa ligada...
Comecei em 1994, fazendo uma peça para uma amiga minha que queria levar uma jóia para a filha que morava nos Estados Unidos e que queria matar saudades da terra. E foi a primeira vez que fui procurar sobre as fibras e as sementes da região. Fiz uma colar com metais e sementes regionais. Primeiro fiz os ícones representados pela peneira (tipo de cestaria), a tartaruga, o arco e a flecha e etc, depois para separar essas peças usei a semente do açaí (fruto de palmeira) e na altura pedi a um amigo indígena para ele fazer um molde maior, onde incrustei uma pedra preciosa... Essas peças foram para a Flórida, e quando chegou lá teve um grande impacto junto das meninas da faculdade. Houve um grande interesse.
As minhas primeiras biojóias foram para os EUA. Tenho ainda alguns clientes por lá... Alguns famosos. E já me falaram que vocalista de ACDC e a sua mulher... Encontrei muito obstáculos porque as pessoas daqui [Manus] não davam valor.
Tive que sair de Manaus para vender. Expus o meu trabalho em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e eram viagens dispendiosas . Na época as minhas colecções eram muitos admiradas, porque as pessoas viam como obra de arte, mas não as compravam, pois as pessoas não se viam utilizando as minhas peças no dia-a-dia. Então, elaborei uma kit com matérias-primas regionais (sementes, fibras, couro de peixe e etc.) para as minhas amigas designers do Rio de Janeiro. Depois começou a surgir várias... Até então não era moda. Precisei criar concorrentes...
Envolvi toda a minha família para trabalhar na empresa e tinha que ter confiança nas pessoas. A empresa cresceu muito. Fizemos cursos de capacitação, para fazer planos de negócio e li muitos livros virados para o empreendedorismo.
Ganhámos alguns prémios. Em 2006 ganhamos o prêmio pelo “TOP 100 de Artesanato” sendo reconhecida pelo SEBRAE como uma das unidades produtivas de maior destaque em todo o Brasil. Em 2008 ganhei o Prêmio Empreendedor Social 2008, ligado à exportação. Em 2009 fui para Paris, foi importante sentir o público europeu...E depois vieram outras exposições.. Alemanha, Itália... O país que eu me identifiquei mais foi a Itália. As pessoas lá adoram o nosso trabalho. Dão muito valor ao que fazemos, o que me deixa muito feliz. Mostra que estamos no caminho certo.
Depois veio a crise... eu senti a crise em 2009... Todos os anos faço exposições em Itália. Em 2010 ganhei novamente o prêmio pelo “TOP 100 de Artesanato”. Estava praticamente a vender só para a Europa, e comecei a falir. Aliás eu fali... Para eu continuar entrei numa sociedade durante 2010 e 2011, mas que não deu certo. Essa sociedade não estava a fazer bem para mim e perdi praticamente tudo o que tinha construído até então.
Em 2012 foi então um ano de recomeço para mim. Ganhei novamente o prêmio “TOP 100 de Artesanato”. E 2013 foi um ano para reorganizar a casa. Em 2014, espero crescer
Às vezes olhamos para trás e pensamos se vale a pena, mas depois pensamos na satisfação que este trabalho nos dá. Tenho uma mente muito inquieta. Acho que toda a gente que trabalha na área criativa tem. E comecei a procurar outros caminhos. Agora estou a fazer um curso de design de moda...Tudo volta ao passado. A minha mãe era costureira...Houve uma altura que estive num atelier para criar roupa para os filhos e para o meu marido.
Agora estou pintando com os temas das colecções das biojóias... arara, papagaio, mulher gueireira.. Vou retratar a coleções da biojoia.. Depois quero estampar..
O meu produto é consumido por jovens e por pessoas mais velhas, mas que são jovens de espírito... porque ele é uma joalharia alternativa. São pessoas que dão valor à cultura e à biodiversidade amazónica. Tenho gente de Manaus que compra, mas a maioria é de outros estados do Brasil que vêm visitar Manaus e levam. Vendemos também muito pelo nosso site. Nesse momento não estamos exportando devido à crise da Europa. Mas a gente viaja e tem gente que nos compra e leva as jóias para outros países.
Já passei por muitas dificuldades. Hoje, menos... Você antes tinha problemas, mas não estas quedas nas vendas... Hoje você tem que estudar mais, se desdobrar, treinar os seus vendedores. Tem que fazer um monte de coisa para conseguir aquela venda que você facilmente fazia no passado. Hoje em dia você tem que ser muito mais guerreira.
A minha visão de futuro, hoje, é ser vista em qualidade e em design inovador internacionalmente. Levar o design amazónico para esses países. Para isso, temos que trabalhar muito. Hoje em dia, temos um gigante como inimigo, que é a China, que reproduz tudo com materiais mais baratos. Para quem não dá valor ao que é feito à mão, acaba por deixar de lado para comprar mais barato. A gente acaba por ser derrubado pelos grandes. É preciso, por isso, conquistar um público fiel, que são pessoas que dão realmente valor a um produto bem acabado, feito de qualidade.
Além da biodiversidade amazónica, a gente trabalha inclusive com as culturas indígenas. Há toda uma sustentabilidade por trás; é uma cadeia de pessoas envolvidas muito grande: os indígenas, os caboclos, os ribeirinhos...Não temos mão de obra escrava. Fazemos tudo o que é ecologicamente correcto, mas para actuar no mercado com tudo isso, ainda não temos um produto competitivo.
Hoje somos uma micro-empresa, deixei de ser uma empresa que tinha toda uma estrutura de fábrica para ter agora um atelier e agora estou terceirarizando a maior parte. Antes era tudo feito na empresa. Directamente, trabalham comigo quatro pessoas e indirectamente mais de cem.
Por ser mulher vamos adquirindo muitas funções, sendo esposa, mãe que trabalha fora, agora avó... Eu acabo por fazer uns horários complexos, mas eu me dedico a uma coisa de cada vez. Por exemplo, escolho sempre o Domingo para a família, para os netos... Nesse dia me dedico a eles de corpo e alma.
O meu marido actual acaba trabalhando comigo. Ele está criando uma linha de pulseiras masculinas. Ele me dá muita força nesse sentido. Sempre envolvi a família no trabalho. É difícil satisfazer todos os lados da mesma maneira. Mas se pelos menos a gente conseguir satisfazer um pouco cada um dos lados, a gente não se anula.
Conselhos para quem ser empreendedor? Em primeiro lugar, tem que gostar do que faz. Não adianta fazer uma coisa só para ganhar dinheiro, porque você vai passar a sua vida inteira se dedicando a esse negócio. Em segundo lugar, não desistir nunca. Às vezes dá vontade, sobretudo quando surgem as barreiras... Você tem que se tornar forte, buscar a força interior que você tem e acreditar no seu talento e ir além. Dizer “hoje vou conseguir, foi um dom que Deus me deu", e a gente tem que saber usar esse dom não só empiricamente; é preciso batalhar muito. Ter muita coragem porque as mulheres empreendedoras vão ter muitas barreiras, mas também muitas alegrias.