Valores: Persistência, Determinação, Intuição
Idade: 42
Naturalidade: Faro
Sandra é uma mulher que queria ser jornalista mas, acima de tudo, diferente. E foi a sua irreverência que a fez voltar ao Algarve e dedicar-se ao negócio da família na área da cortiça, que descobriu, afinal, ser a sua grande paixão. Com visão, recriação e "inspiração própria" criou a Pelcor, uma marca que combina inovação, design e sustentabilidade e que já conquistou os mercados do EUA e do Dubai.
Tive um período na Novacortiça [empresa da família], que foi fundamental. Foi aí que aprendi que a história faz parte de todos nós, aprendi a contar histórias e a percecionar como era viver nos anos 50 e 60. Aprendi sobretudo com o meu pai e o meu avô, dicas de vida, de futuro.
O meu avô era um homem muito sábio e bondoso. Parte da minha infância vivi no campo com ele e junto dos sobreiros. Mais tarde, cresci na fábrica do meu pai, corria entre os fardos de cortiça, brincava com a cortiça, via os homens a cozerem manualmente a cortiça, as mulheres a escolherem rolhas... desde sempre me lembro do cheiro da cortiça cozida.
Com o meu pai, aprendi sobretudo a ser leal, honesta, verdadeira e sonhadora. Ele foi sempre o meu ídolo; quando era miúda ia treinar com ele (porque na época foi um árbitro internacional de futebol da FIFA e da UEFA) e quando fosse grande queria ser como ele.
Dar continuidade ao negócio de família foi algo que não estava nos meus planos simplesmente... aconteceu. Quando era miúda, queria ser jornalista e famosa. Queria ser diferente, porque eu era diferente, rebelde, traquinas... Sempre tive uma maneira muito própria de ser; diziam-me que o caminho era pela direita e eu ia pela esquerda...
Estas características deram muitas dores de cabeça aos meus pais, mas hoje transformaram-se positivamente na minha vida, e é esta maneira de ser irreverente, mas agora mais refinada, que me faz ir em frente, abrir caminhos e não desistir por nada.
Primeiro que tudo, tem que se ser apaixonada(o) pelo negócio de família, se não existir amor ou paixão não vale a pena. Depois entrega, visão, inovação, recriação e dar o todo de si, só assim se consegue.
Ainda tive a proeza de sair de casa da família aos 18 e ir estudar para Lisboa (coisa rara na altura no Algarve!), mas desde sempre quis estudar jornalismo, e fi-lo! Durante a licenciatura... apaixonei-me pelo Marketing e quando terminei o curso fiquei por Lisboa. Trabalhei no Record, numa empresa de Marketing e depois fiz formação de vendas e fui vender seguros. Andei a conhecer o mundo do trabalho, precisava disso.
Na empresa de seguros não me deixavam trabalhar com calças de ganga, assim, quando fiz a minha terceira entrevista e terceiro contrato, vesti as calças de ganga e demiti-me…claro que nesse dia já me deixavam ir com elas vestidas e eu respondi: "Não!" Esta era a minha postura e irreverência própria e aí decidi vir para o Algarve e vir trabalhar para a fábrica, aprender sobre a cortiça (porque afinal era a minha paixão desde sempre).
O primeiro momento mais marcante na história da Pelcor foi quando após o lançamento da marca em 2003, recebi um convite para integrar a comitiva Presidencial (na altura o Presidente era o Dr. Jorge Sampaio) e ir à Noruega apresentar os produtos Pelcor. Marcou-me porque em tão pouco tempo, comecei a aperceber do potencial da marca e do produto.
Confesso que não estava nada à espera daquela eleição como Mulher de Negócios 2011 pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho Europeu de Mulheres Empresárias. Parece que foi cedo demais e nem eu própria me apercebi muito bem do significado que este prémio iria trazer. Representou muito orgulho, não só para mim, mas para toda a minha equipa e para a Novacortiça, e representou um alento, uma força e mostrar que em Portugal temos bons valores e que lá fora acreditam em nós, isso foi o mais importante.
Outro momento alto foi há cerca de dois anos atrás, quando pude criar a equipa de Design da Pelcor e “convencer” a Presidente da Moda Lisboa, Eduarda Abbondanza a ser a Directora Criativa da marca.
Muitos momentos altos a Pelcor me tem proporcionado... desde as aventuras de pegar nas peças, colocar nos sacos e abrir caminhos em Nova York, no Dubai, até mostrar o produtos, falar com o coração e ver a reação das pessoas... São de facto histórias que ficam sempre na memória como únicas.
Quando se reúne num produto design, inovação e sustentabilidade, o que se pode querer mais? Queremos que tudo isso se transforme numa coisa a que chamo Marca, querer fazer marca, criar um estilo próprio e vender conceitos de design, inovação e sustentabilidade, querer fazer marca e que essa marca seja reconhecida mundialmente.
No estrangeiro temos sucesso uma vez que os clientes compram os produtos porque estão a comprar um conceito, não só pela estética, mas por tudo o que o envolve. A história atrás do produto está a ser construída, tem de ser contada e recontada vezes sem conta e esse é o nosso passaporte.
Hoje em dia, em Portugal, as pessoas valorizam o produto cortiça, não só pelo trabalho que a Pelcor tem realizado e divulgado, mas também pelo trabalho que empresas como a Corticeira Amorim têm desenvolvido. Antes não era reconhecido, hoje o produto também se tornou mais apelativo em todos os sentidos, e as pessoas gostam de produtos bonitos e bem concebidos e se forem em cortiça melhor.
Não é fácil inovar. Ideias temos, vontade também, mas temos de ser persistentes e tentar, tentar, tentar. Ser líder de uma empresa de um produto tão singular e marcadamente português como a cortiça representa alguma responsabilidade...
Na verdade o que eu sinto não é a responsabilidade, eu sinto sim é uma grande vontade de fazer mais e melhor, de mostrar não só a nível nacional, mas internacional que sabemos fazer e que com o tempo, a Pelcor não é reconhecida por ser uma marca que trabalha cortiça, mas sim uma marca que vende o conceito e a sustentabilidade desta matéria-prima tão singular e única. E esta vontade é a nossa responsabilidade, minha e da minha equipa e é isso que nos motiva.
A inspiração nasceu comigo. Durante muitos anos não percebia bem porque é que mesmo nos momentos menos bons, eu encontrava algo em mim que me ajudava a tornar estes em momentos melhores. Hoje percebo que a inspiração vem de mim, do grande Amor que tenho para comigo e com os outros, do significado que a Vida tem e de toda a essência que nos une. Ao ser Reikiana vivo com o Amor Incondicional e essa é a minha força, o meu segredo.
Não tenho dias iguais, são todos diferentes, mas geralmente passo uma semana no Algarve e outra semana em Lisboa, onde tenho uma das bases da Pelcor. Por outro lado, muitas vezes passo o tempo a viajar em trabalho, e nestes casos são dias loucos. Um dia normal no Algarve é assim: levanto-me pelas 7 da manhã, passeio o meu cão Corky. Pelas 9 horas estou na Pelcor em São Brás de Alporter, onde estou até as 18 horas. Depois vou ao ginásio, à noite em casa faço sempre uma hora de meditação, tenho um ritual e faço Reiki.
Todos as noites volto a ligar-me ao mundo real, através das tecnologias, porque se em Portugal já é de noite, nos USA ainda é de dia e no Oriente também. Deixo ainda um pouco de tempo para as redes sociais, porque confesso, não sei viver sem elas e sem as pessoas que me rodeiam. Sou gémeos de signo, comunicadora de origem...
A inovação da marca Pelcor não se sente apenas a nível do produto mas também a nível das pessoas. Tento tirar partido do (enorme) potencial dos meus colaboradores dando-lhes liberdade suficiente para serem criativos e auto-suficientes, esta é a chave 'Liberdade'.
Contratámos profissionais nas respectivas áreas e apostámos muito no design, ao cargo de Eduarda Abbondanza que trouxe uma grande mais-valia para a marca. Além disso o amor que temos ao nosso trabalho, o amor que temos aos nossos colegas, o amor que todos temos uns pelos outros. Só com amor e bem estar e saúde poder ter melhores resultados, além de uma liderança saudável e aberta.
No espaço de dois a quatro anos desejo que a Pelcor seja mundialmente reconhecida como a marca de acessórios de moda de Portugal lá fora. Perspectivo abrir lojas da Pelcor nos USA e Médio oriente. E, depois disso, vou de férias.
Photos © Pelcor