Valores: Honestidade, Integridade, Persistência
Idade: 40 anos
Naturalidade: Braga
O seu interesse pelo Empreendedorismo Feminino surgiu bem cedo, no ensino secundário. Foi mais propriamente através da disciplina de Sociologia que Sandra despertou para este novo mundo de desafios e oportunidades. Para quem acredita que as pessoas não se copiam e são o verdadeiro elemento diferenciador nas empresas, a atitude é tudo, e não basta a uma empreendedora ter ideias, por muito inovadoras e brilhantes que sejam
Tive o privilégio de contatar cedo com o mundo da Igualdade de Género através de uma disciplina do Mestrado, melhor dizendo, a Igualdade de Oportunidades e Gestão da Diversidade. Mas, afinal o que era isto? Pus olhos às leituras existentes na altura sobre a área e a interessar-me por todas as açoes em que vislumbra-se poder descobrir mais sobre o tema.
Como profissional de Recursos Humanos que me tornei, a área da Igualdade de Género ajuda-me a perceber a construção social associada a cada género dentro do contexto organizacional, e consequentemente, a cultura das organizações. É interessante, envolvente e faz sentido ver o sistema como um todo, do qual fazem parte uma multiplicidade de pessoas.
É um tema com uma vertente histórica muito forte, e que nos permite compreender muito dos comportamentos sociais daí decorrentes. Em 2012 com a nomeação de Embaixadora da Rede Europeia do Empreendedorismo Feminino, e a integração no grupo de Trabalho de Igualdade do Género da Rede Nacional de Responsabilidade Social, intensificaram-se as minhas intervenções em torno desta área.
Inspirar mulheres de todas as idades, vindas de todas as áreas, e com o mais variado tipo de experiências foi a base da existência da Rede Europeia do Empreendedorismo Feminino. Também eu dei o passo de constituir uma empresa, em 2008, e fiz questão de dar o exemplo a tantas outras que tinham a vontade, mas faltava-lhes a confiança e o passar à ação!
O papel das embaixadoras europeias do Empreendedorismo Feminino era o de elevar a confiança necessária para criar e montar negócios de sucesso, dando a cara, demonstrando capacidade, o exemplo através dos meios de comunicação social, conferências e outras plataformas. E, claro, ao mesmo tempo, estarmos disponíveis para partilhar conhecimento e experiências na área da gestão.
Tomar contato com tantas aspirações, dificuldades e sucessos de outras mulheres, com projetos de todo o tipo e modelos de negócio, só me fez uma mulher mais rica, mais completa, com uma missão mais delineada. Foi neste momento da minha vida que passei a acreditar que só com a partilha de conhecimento construímos pontes entre cada uma de nós, e entre os projetos que assumimos de corpo e alma.
Observar como cada mulher enfrenta cada obstáculo é desafiante, sobretudo numa altura em que eu própria já tinha superado tantos outros, de igual ou diferente natureza. Na verdade, só com muito esforço, persistência e uma palavra mágica chamada "resiliência" valem tudo ao levar um sonho avante, seja ele qual for.
Nunca passei a imagem de facilidade, de passos certeiros, de um caminho onde só há "abertas". No fundo, todos sabemos que essa não é a realidade, e crer em algo que não é só atrasa o nosso trabalho. E, sem dúvida que é na luta, nos tropeços, e no corrigir trajetória em vários momentos que está o deslumbre de um negócio.
Eu própria estou em consolidação quer de mim própria enquanto empresária, quer do meu negócio. Não sinto que precisamos dominar tudo enquanto mulheres de negócios mas, pelo menos perceber do que nos falam, como por exemplo tudo que à linguagem financeira diz respeito. Parece um bicho papão que afasta tantos homens e mulheres de se lançarem e controlarem por si próprios o seu negócio, mas acredito que é preciso desmistificar e simplificar.
Como consultora sou, por vezes, confrontada com questões que eu própria não domino e não tenho resposta. Se, à primeira vista, isso pode complicar lidar com o que me expõem, por outro só pode despertar em mim mais curiosidade, e me instiga a procurar alguém ou uma resposta para ajudar. Mas é essa partilha, a diversidade de pontos de vista e de modelos empreendedores que faz com que este trabalho pro bono seja tão gratificante.
A Igualdade de Género continua e continuará a ser um tema muito “quente”. E, no meu entender, as questões que derivam em volta do tema fazem sentido, porque a igualdade está ainda longe de ser atingida em vários aspetos. Todas nós conhecemos alguém que foi despedida ou não contratada para um trabalho porque engravidou. No entanto, continuamos a achar que é perfeitamente normal estas coisas acontecerem. Este problema ambivalente que se reflete na decisão tardia de um casal ter filhos, por querer apostar na carreira, é um problema estrutural que vai ter custos elevados no longo prazo. Hoje, também os homens começam a ser vitimas de discriminação a este nível, quando decidem usufruir da licença de parentalidade, o que demonstra ainda mais o caminho que temos de percorrer para a igualdade.
Muita gente não sabe que continuam a persistir números bem vincados a respeito da desigualdade de género. Por exemplo, no dia 6 de março, comemora-se o dia da igualdade salarial, que corresponde ao número de dias extra que as mulheres devem trabalhar num ano para atingirem o mesmo salário que os homens ganharam no ano anterior. A igualdade de género implica romper com estereótipos e preconceitos enraizados e por todos nós (sociedade) veiculados, ainda que de forma inconsciente. Desmistificar estes estereótipos exige persistência, mas acima de tudo consciencialização.
Talvez porque somos mulheres e, logo, somos biologicamente diferentes dos homens, coloquemos mais emoção em tudo o que fazemos. Isso não é negativo nem deve ser visto como um handicap ou até como uma caraterística perturbadora nos negócios. Não entendo propriamente que as mulheres tenham uma linguagem, objetivos ou uma abordagem própria nos seus negócios. Depende de cada pessoa. O negócio exige pragmatismo e isso tanto poderá ser um traço de homem ou mulher.
Apesar de representarem 52% da população europeia, apenas 1/3 das mulheres são fundadoras de empresas. Este facto está em grande parte relacionado com obstáculos contextuais (relacionados com a educação) e económicos (ligados à falta e credibilidade para acederem a um modelo de financiamento), bem como às dificuldades de conciliação trabalho/família.
As preocupações relacionadas com o empreendedorismo feminino derivam destes obstáculos ainda visíveis, e que se traduzam quer queiramos quer não, em preocupações diferentes na sua fase de projeto ou de lançamento da ideia de negócio. As ansiedades, receios e medos de investirem num projeto seu somadas a estes obstáculos faz com que o Empreendedorismo Feminino apresente particularidades distintas.
O meu projeto, que começou por se intitular "Key People" e cresceu no caminho de uma joint venture com a Edit Value Consultoria Empresarial, continua a querer, tal como a sua génese, traçar caminhos na gestão de recursos humanos. Procuro incutir modelos de recrutamento diferenciadores e de formação outdoor que potencia a área de teambuilding combinada com uma componente formativa.
A área de recursos humanos é e será sempre a minha paixão porque acredito que as pessoas são o elemento diferenciador. As pessoas "não se copiam" e, por isso, lançam um manancial de desafios que trazem vantagem competitiva às empresas. Mas para isso é necessário saber gerir, liderar e motivar cada equipa.
Incluo a comunidade académica nos públicos-alvo nos quais coloco o foco do projeto. Até porque o nosso papel enquanto empresa é distinto daquele que a Universidade assume. A entrada no mercado de trabalho exige, hoje em dia, uma "caixa de ferramentas" bem apetrechada de hard e soft skills que potenciam a empregabilidade e a abertura de horizontes. Constatámos esta necessidade, num estudo que desenvolvemos sobre as competências de empregabilidade junto da Comunidade Académica da Universidade do Minho - “Becoming Skilled”.
O empreendedorismo não tem idade, nem género. Tem apenas inspiração e transpiração... É esta a conclusão que tiro do contato que tenho diariamente com tantas mulheres, com áreas de negócio tão aliciantes quanto inovadoras. O mais entusiasmante continua a ser o networking gerado e a troca de experiências.
Não existem fórmulas mágicas para levarmos alguém à ação. Também o é assim com as mulheres e aquilo em que acredito é na motivação que lhes vem de dentro e não deixarem a ideia, o momento esmorecer. A iniciativa, a persistência, a exigência, a autoconfiança e a capacidade para correr riscos calculados, são as soft skills mais importantes de uma empreendedora. Estes traços comportamentais não nascem connosco mas, solidificam-se à medida que nos apaixonamos pelo nosso negócio e percebemos que adquirimos e desenvolvemos outras competências de gestão.
Uma das histórias que não me canso de contar foi como conheci 4 meninas empreendedoras de 15 anos, que lançaram um projeto e uma ideia de negócio que lhes valeu vários prémios de empreendedorismo jovem a nível nacional e internacional. Conheci o seu projeto numa viagem de Alfa entre Braga e Lisboa. Eu ia para uma reunião do Grupo de Trabalho de Igualdade de Género da RSO.PT e elas iam fazer uma apresentação do seu projeto. Durante a viagem elas fartaram-se de preparar a apresentação (com um entusiasmo contagiante desde as 6h15m da manhã!). De tanto as ouvir e ver o power point fiquei a conhecer muito do mesmo, o que me deixou deliciada. Na altura não tive coragem para as abordar. No entanto, uma semana mais tarde, tinha de fazer um workshop sobre empreendedorismo feminino, e eu queria levar um exemplo vivo! Lembrei-me delas... pesquisei na internet o seu produto e soube como contactar a escola... e assim nos juntamos, essa e outras vezes, para dar a conhecer que o empreendedorismo nasce da vontade, e que aos 15 anos também podemos empreender sem deixar para trás outros desafios.
O que faz de nós empreendedoras não são só as nossas ideias que nos surgem, mas essencialmente a atitude que tomamos perante elas.


Photos © Pedro Couto