vegeteriana

À mesa com ... Melissa

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Valores: humanidade, sensualidade, criatividade

Naturalidade: EUA

Idade: 36

Para Melissa Soares cozinhar é uma paixão. Aos 11 anos esta nova iorquina tornou-se vegetariana e viu-se levada a fazer a sua própria comida. Para ela o mundo da cozinha é uma terapia de relaxamento - "perco-me nas criações, por vezes apenas para me abstrair do stress do dia a dia. É a viajar que busca inspiração para (re)criar pratos, tendências, sabores, mas foi em Portugal que desenvolveu o seu espaço "Questão de Paladar".

Tornei-me vegetariana aos 11 anos, curiosamente, e assim só tinhas duas opções: ou comia o que me apresentavam em casa, ou teria que começar aprender e rápido. Naturalmente não tinha muito jeito mas ao longos dos anos fui aperfeiçoando as minhas habilidades.

Da minha vivência nos EUA retirei o que sinto em que são melhores: simplificar as coisas com o máximo de rentabilidade e com o melhor produto final. Isso é algo que que trago para as minhas receitas. São fáceis, rápidas e saborosas.  

Quando vim para Portugal já trazia na ideia um dia vir a ter um espaço meu, onde os meus cozinhados e criações tomassem lugar à disposição de todos. E, como tudo quanto acreditamos com verdade, acontece! Trouxe sem dúvida uma forte influência da cozinha da costa Este dos Estados Unidos. Aliada aos sabores portugueses acho que consegui criar pratos que são apreciados pelo paladar português.

Ter um pai que é um Chef gourmet influenciou-me sem dúvida bastante. Nunca me pôs a cozinhar, pelo contrário. Ele é que tinha o comando total da cozinha em casa. Contudo, eu observava, sentia os cheiros a infiltrar a casa, saboreava... enfim, tudo isto creio que me inspirou ou pelo menos ficou no meu subconsciente de alguma forma. Quando penso na minha infância associo a determinados pratos, aromas e sabores.

Tento aproveitar os momentos de inspiração para me atirar de cabeça e criar. Cozinhar é uma paixão! 

Penso que só cozinha bem quem realmente gosta e vibra com a cozinha. Como em qualquer arte há alturas em que nos sentimos menos inspirados e noutros mais. Pessoalmente também preciso de estímulos e é importante viajar, jantar fora etc. para sentir um entusiasmo artístico.

A paixão de cozinhar envolve muitos aspectos, desde do acto criativo ao acto social. Inicialmente comecei por mim mas é uma sensação recompensador quando as minhas criações são apreciados e validados por outros.

Tive o privilegio de estar dos dois lados sempre: por detrás de uma banca de cozinha, e do lado de quem leva a comida à mesa de alguém. Quem está por detrás gosta de sentir a satisfação dos clientes. São necessárias proficiências especificas para quem tem contacto pessoal com os clientes. A simpatia o sorriso e o “mimar” o cliente são apenas alguns dos traços importantes a possuir.

Os três atributos que considero fundamentais num prato novo são: originalidade, sabor, cor. A comida é um reflexo de como nos sentimos. Pode ser vista de várias perspectivas: desde alimento, a prazer, a necessidade. Por vezes a pessoa esta mais em baixo e quer algo doce ou adopta um novo estilo de vida saudável e opta por ter em atenção a nutrição e calorias. Pode servir para juntar pessoas, como arte ou como consolo.

É a viajar que busco a inspiração para criar e recriar pratos diferentes. Adoro misturar os meus conhecimentos com o que experimento noutras culturas. Esta fusão de ideias e sabores dá me imenso gozo.

Não me vejo como uma chef gourmet mas, sim, como uma cozinheira do dia a dia. No mundo acelerado em que vivemos hoje, sinto que as pessoas em geral não tem tempo nem paciência para perder horas na cozinha. 

Adoro incluir as pessoas no ato de cozinhar. Tornar esse momento do dia num momento social de partilha, preparar algo a varias mãos, em conjunto com vários gostos, ir provando, pode tornar-se numa experiência realmente enriquecedora. 

Gostava de desfazer o mito de que para cozinhar é preciso despender muito tempo. As receitas que podem ser feitas em 30 minutos são igualmente saborosas e nutritivas. É necessário ter alguma organização na cozinha para tornar esta tarefa mais simples como ter alguns preparativos feitos ou congelados. Muitas vezes posso fazer a mais e simplesmente congelar antes de cozinhar. 

Um processedor de alimentos é para mim a ferramenta mais util pois pico cebolas em segundos, faço molhos, pico carne... Ao cozinhar arroz, por exemplo, faço a mais e no dia seguinte misture numa salada fria a hora de almoço!Não sou só chef, sou muito mais e gosto de ser reconhecida como tal. Acho que a comida une as pessoas e gosto de poder contribuir nesse sentido também. 

Criatividade, gestão, um pouco de relações publicas, muitas iniciativas e energia revigorante. Estes são as componentes que considero importantes para ter sucesso nesta área. Hoje em dia a localização de um espaço é fundamental basicamente... o que está na moda e anda nas bocas do povo.  

Neste momento estou focada no meu blogue Mel's Fusion Kitchen e a escrever um livro de receitas baseado nos pratos mais populares do meu restaurante Questão de Paladar.

Tenho na mira um programa de cozinha vegetariana com um formato muito dinâmico, de forma a que os portugueses comecem a incutir mais a alimentação vegetariana na sua dieta.

O facto do fenómeno "chef de cozinha", em que se assiste a cada vez mais os homens terem prazer e, ao mesmo tempo ambicionarem liderar no mundo da cozinha, reflecte bem a mudança de papeis na sociedade. A mulher já não está destinada somente a cuidar da família e do lar como noutros tempos, e deixou até espaço para que o homem desse azo à criatividade num espaço outrora tão ligado ao feminino.

Homens, mulheres, crianças… cozinhar esta de momento na moda e todos estão a seguir esta tendência. Aliás, há cada vez mais homens chef's de cozinha e, como é notório, têm imenso sucesso!

Hoje em dia sinto que toda a gente procura saber algo mais sobre o mundo da cozinha, é cativante e não tem fim, não elege géneros, momentos, idades, condições. A cozinha é uma porta aberta ao mundo. 

Photos © Mafalda Pessoa Jorge