Valores: integridade, trabalho, humildade
Idade: 25 anos
Naturalidade: australiana
Em pequena sonhava construir robôs mas quando chegou à universidade ficou surpreendida com o reduzido número de alunas na turma. Decidida a mudar a realidade, reuniu um grupo de amigos e foi às escolas explicar às raparigas o que era a robótica. Nascia a Robogals, uma organização reconhecida internacionalmente e que deu a Marita Cheng o título de Jovem Australiana do Ano 2012.
Eu sempre fui fascinada por robôs. Quando era criança, a minha mãe mandava-me fazer as tarefas domésticas e eu costumava sonhar com o dia em que um robô poderia fazer tudo por mim. Mas quando olhava à minha volta, não via nada do género e então sonhava em ser eu a construí-lo.
Quando fui para a universidade de Melbourne estudar engenharia mecatrónima e ciências da computação, foi um choque enorme descobrir que éramos apenas 5 raparigas numa turma de 50! Soube depois que menos de 10 por cento dos engenheiros na Austrália eram mulheres. Não me parecia bem. Não fazia sentido que 90 por cento do mundo à nossa volta (smart phones, computadores, carros, edifícios, comboios,…) fosse criado e mantido por engenheiros homens. Como podes ter a certeza de que o que o que estás a fazer é bom para uma população 50-50 homem-mulher se apenas 10 por cento dos criadores são mulheres? Como podemos ter a certeza de que estamos a usar as melhores ideias se o grupo sentado à mesa não representa o mundo de forma equitativa?
No meu segundo ano, 2008, abordei um professor para saber se o seu departamento poderia financiar a construção de um robô (meu e de alguns amigos). Ele disse que andava à procura de um grupo de alunos para ir às escolas e ensinar robótica aos miúdos de 12 anos. Era a nossa oportunidade. Poderíamos realmente fazer a diferença no número de raparigas que escolhem engenharia no ensino superior. Pensei mais longe: se podemos ensinar raparigas numa escola, porque não ensiná-las em todas as escolas? Tracei um plano e passei à prática. Recrutei amigos, preparámos aulas de robótica, contactei as escolas e chamámos mais voluntários. Nascia assim a Robogals.
O objectivo da organização é chamar a atenção das raparigas para o mundo da engenharia e da tecnologia. A nossa primeira actividade são os workshops de robótica: explicar o que é a engenharia e como é que os engenheiros podem fazer a diferença nas nossas vidas. Costumamos dizer que é a aplicação prática da ciência para tornar o mundo melhor. Também organizamos eventos na comunidade como exposições, desafios e competições. Desde Julho de 2008, ensinámos 17.000 raparigas na Austrália, no Reino Unido, nos EUA e no Japão.
Quando estávamos a dar o nosso máximo para que o projecto funcionasse, nunca pensei na notoriedade que poderíamos alcançar. Limitei-me a estabelecer metas que me pareciam divertidas e desafiadoras para mim e para a equipa. Trabalhámos muito para as conseguir alcançar. Fiquei surpreendida e satisfeita que outros tenham pensado que o que nós estávamos a fazer pudesse realmente fazer diferença no mundo e que quisessem reconhecer os nossos esforços. Só nos motivou para fazer mais e melhor.
Sem dúvida que valeu a pena todo o esforço! Diverti-me ‘à brava’, fiz amigos novos, viajei pelo mundo e aprendi coisas que nunca teria aprendido numa sala de aula. As capacidades que desenvolvi através da Robogals deram-me a coragem e a confiança necessárias para perseguir a minha próxima aventura: um braço robótico para pessoas com mobilidade superior limitada.
Depois de concluir os estudos, recusei várias propostas de emprego. Há mais de 10 anos que o meu sonho era criar e ser CEO de uma empresa de robótica. Queria fazer parte da revolução robótica e contribuir com novos robôs, que nos ajudem nas tarefas do dia-a-dia. Tudo o que aprendi na Robogals pareceu-me muito mais adequado para começar a 2Mar Robotics do que para desempenhar qualquer outra função.
O maior reconhecimento? Sem dúvida, o Prémio de Jovem Australiano do Ano 2012. Mudou a minha vida da melhor maneira possível, ao dar reconhecimento à Robogals e ao trabalho que estávamos a fazer e ao proporcionar-me mais oportunidades, tanto a nível nacional como internacional. Sou uma privilegiada por ter tido a honra de o receber.
Vou buscar a minha inspiração às pessoas com quem trabalho. Sou muito melhor no trabalho e mais eficaz quando tenho uma equipa a trabalhar comigo para alcançar o mesmo objectivo. Não a quero desapontar.
Como conciliar tudo? Eu queria imenso que a Robogals atingisse as metas propostas mas não sabia como. No entanto, eu sabia que para o conseguir, teria de alargar os meus horizontes e crescer enquanto pessoa. Ao longo desse processo descobri que era mais forte do que alguma vez pensei. A vontade de vencer ajudou-me a chegar lá!
Não me arrependo de nada. Tudo acontece exactamente como está previsto acontecer. Até as oportunidades perdidas acabaram por ser o que eu precisava naquele momento.
Estive em Portugal quando terminei o meu ano de intercâmbio no Imperial College London. Queria conhecer o país e passei uns dias no Porto. Gostei imenso. Visitei a Casa de Música e sentei-me lá a sonhar e a contemplar a beleza do edifício. Adorei a comida. Em Janeiro de 2012, voltei a Portugal para participar na Sandbox Global Summit, em Lisboa. A Sandbox é uma comunidade de jovens com menos de 30 anos, que querem mudar o mundo. Além disso, um dos meus melhores amigos é português.
Uma mulher de sucesso? Não penso que o sucesso seja um estado que se possa manter. É um alvo em constante movimento. A minha definição de sucesso é alcançar os nossos objectivos. É um conceito muito pessoal.
Sou feliz! Tenho um pequeno e simpático apartamento, que fica numa bonita e pacata parte do mundo. Vivo num grande país como é a Austrália, onde me sinto sempre segura. Divido casa com os meus amigos. Tenho o emprego dos meus sonhos. Trabalho com uma equipa espectacular. Posso viajar algumas vezes por mês para partilhar a minha história e conhecer pessoas novas.
Planos para o futuro? Construir robôs. Mudar o mundo. Divertir-me
@ copyright Cláudia Henriques [Sydney]