Valor: honestidade
Idade: 35 anos
Naturalidade: Évora
Desde as suas origens, no Alentejo, que está fortemente ligada à terra. Leonor Sottomayor é hoje uma mulher e mãe que acredita no sector primário enquanto aposta de vida, proteção do ambiente e até fonte de rendimento. Paciência, gosto e persistência são os ingredientes que cultiva como essenciais na sua ligação à terra. É com entusiasmo que relata o longo processo de lançar o projecto, observar o crescimento, gerir as expectativas e colher o fruto do trabalho agrícola.
Ser uma nova agricultora foi para mim uma oportunidade que surgiu naturalmente. Mas também já tinha o gosto pela terra. Aliás, é um gosto familiar que é herança dos meus antepassados, a minha família sempre esteve muito ligada à terra... Eu vivia no Alentejo e as actividades quer escolares, quer de lazer estavam associadas ao campo é à agricultura. No fundo, sou uma “nova velha agricultora” porque, à partida, o meu percurso de vida não estava virado para aí, mas já tinha o “bicho”... Entrando, vai ficando e desenvolve-se... Cria-se uma ligação quase umbilical com a terra.
O mais importante nesta actividade é a dimensão da área de produção disponível e o resultado final que se pretende. Se a dimensão for pequena, naturalmente só pode existir enquanto actividade paralela. O rendimento obtido não é suficiente para um agregado familiar. E depois depende dos nossos objetivos finais, se queremos exportar ou não... Para arranque inicial, no meu caso, fez sentido que fosse uma actividade paralela, até porque tenho outras actividades.
Ter mais do que uma actividade permite obter resultados mais rentáveis... If you need something done ask a busy person. Mais ocupado se está, melhor gestor de tempo se torna.
Há uma grande transferência de competências de uma actividade para a outra. Na minha situação destaco principalmente as competências de gestão e comercial, além de que vai-se criando uma rede de contactos que se torna bastante útil para a promoção da atividade.
Parece-me que na nossa geração se está a assistir a uma profissionalização do sector primário. Tem interesse criar novas vivências e trazer novos projectos. Adquire-se conhecimentos que se vão servindo multidisciplinarmente uns aos outros. A agricultura do presente, com visão de futuro, terá que passar por aí. E acima de tudo, é tão importante saber produzir como vender o que se produz.
A Primavera e o Verão tornaram-se mais ocupados, mas tudo se adapta... A cultura que escolhemos não tem uma mão-de-obra intensiva constante, mas nas épocas de colheita temos que nos adaptar e trabalhar um pouco mais.
A falta de mão-de-obra disponível é a principal dificuldade sentida neste negócio. Actualmente, o trabalho agrícola não é muito bem considerado. É uma tendência que vai ter que se alterar e haverá uma nova mudança das mentalidades.
Os primeiros anos do projecto foram de muito entusiasmo, muita gestão de expectativas, e tendência para contrariar o imediatismo. Foram dois anos a montar o projecto, ver as plantas a crescer... É preciso gerir muito bem as expectativas, pois é o oposto do que a sociedade presente advoga.
Grande ingrediente para o sucesso de um negócio passa pelo conhecimento prévio dos clientes. Saber o que querem, quando querem, onde querem e com que periodicidade. Só depois é que avança. A não ser que se esteja a produzir para consumo pessoal. É essencial conhecer quem está disponível para comprar e responder às suas necessidades.
Naturalmente o facto de o meu marido ter formação na área ajudou imenso, vamos percorrer juntos este caminho, com uma visão realista e sendo rentável. Em termos de perspectivas, ir o mais longe possível, apostar na exportação e explorar oportunidades que vão surgindo.
Acho que a terra voltou a ter um valor que tinha sido ignorado, esquecido... Até agora havia muito trabalho noutras áreas e agora há um regresso à terra. É uma vida diferente, mais calma, ao sabor das estações.
Os países mediterrânicos podem apostar na diversidade das produções, ter várias culturas no mesmo terreno, ao contrário do Norte da Europa, que se caracteriza pela monoculturas. Essa é uma mais valia que nos consegue diferenciar.
O investimento num negócio não deve ser ditado pela existência de um subsídio. Pelo contrário, o objectivo deverá ser investir numa cultura que seja rentável sem subsídio. Se o mesmo estiver disponível tanto melhor, mas não deve ser determinante para avançar. Sem o apoio do PRODER, demoraria mais tempo a tomar a decisão. Não investiria logo no início em equipamento com tecnologia tão avançada. Ter a disponibilidade do subsídio ajuda-nos num retorno mais rápido e a expansão mais rápida do negócio. Connosco foi este o caminho.
Para ser um “novo agricultor" é preciso ter muita paciência, ser bastante realista para que depois o projecto seja duradouro e não uma coisa fugaz. Para que dure mais do que os cinco anos exigidos pelo projecto de incentivo a primeira instalação. É importante não produzir coisas muito diferenciadas, pois é necessário considerar o escoamento e colocação do produto, ter atenção às margens, ao embalamento do produto. Tudo tem impacto no preço final... Como em qualquer negócio, penso que é necessário ser bastante realista. O projecto tem que ser montado com cabeça e seriedade.
Trabalhar a terra, ainda que a uma pequena escala, pode ser importante para os jovens de hoje, porque ensina-os a cultivar e dá-lhes novos ensinamentos para outras actividades que se vão desenvolvendo ao longo da vida. Do ponto vista psicológico é importante, ajuda a reduzir a necessidade de imediatismo, exercitamos a paciência, há que realizar a actividade e saber esperar pelo retorno. Do ponto de vista material, é uma mais-valia porque é alimentação, e como tal essencial. É um produto sempre valorizado.
Sempre cozinhei com ervas aromáticas e gosto muito. Torna a comida mais saborosa e é saudável.
Uma maior ligação dos meus filhos à vida do campo pode ser uma vantagem para eles tal como foi para mim. Ensina-os a ser pacientes, incentiva-os a ter algo, a realizar e no fim tem uma recompensa. É necessário pôr energia no sistema para que tenha um resultado satisfatório; que a comida não aparece no supermercado por acaso, há uma evolução; que temos que saber aproveitar o que a natureza nos oferece - isso é uma grande ferramenta para o futuro. Ensina-os, ainda, a saber que também não controlamos tudo, e que na agricultura somos muito influenciados pelas condições climatéricas. Dá-lhes noções de sustentabilidade e proteção do ambiente. No fim vivem a natureza à maneira deles, com a simplicidade que os caracteriza.
Photo © Joaquim Luxo