Valores: Amor, ambição e empenho.
Naturalidade: São João da Madeira
Idade: 25
Reinterpretar o mobiliário antigo português. É este o ponto de partida para o trabalho desenvolvido pela designer sanjonanense Iolanda Ferreira. Na Catraia, na Oliva Creative Factory, do antigo se faz novo. Inovação e tradição andam de mãos dadas, lado a lado com a ecologia.
Aos 21 anos estava licenciada em Design de Interiores e Equipamento e como não havia emprego, nem hipóteses de estágio no nosso país, decidi continuar e concluir um mestrado. No final do verão de 2012, a história era a mesma até que surgiu o ‘startup pirates’ e, consequentemente, a Catraia. Sem que estivesse a contar, a minha vida deu uma volta de 180.º. Paralelamente à Catraia, surgiu imediatamente uma hipótese de estágio numa empresa da área da arquitectura de interiores, no ramo da hotelaria. Estágio esse que se prolongou até aos dias de hoje e actualmente é um dos meus locais de trabalho. À par destes dois grandes trabalhos que me roubam 80% dos meus dias, fui colaborando em diversos projectos de design de interiores, equipamento e também gráfico. Basicamente sou uma multi-funções que agarra tudo o que me aparece à frente ou em cima da mesa enquanto projecto.
A Catraia nasceu de uma ideia inesperada, durante a presença numa semana de Startup Pirates, em São João da Madeira, também inesperada. Frequentei aquela semana de empreendedorismo porque ganhei um passatempo e pensei porque não? Arrisquei ir a algo que para mim era totalmente desconhecido e em que não sabia sequer o significado da palavra "pitch". No dia em que me pediram para apresentar uma proposta de ideia para ser trabalhada durante a semana, criei algo sob pressão que a meu ver me parecia um bom produto e que nos dias que correm sou eu, é a Catraia.
Porquê avançar? Por tudo. O próprio projecto, as circunstâncias em que ele apareceu, as pessoas que conheciam a ideia e queriam ver ’catraios’ e o facto de ser algo meu, algo que um dia ia poder olhar e orgulhar-me daquilo que fiz e tentei.
A Catraia centra-se na recuperação e reinterpretação do mobiliário antigo português. Não, não é uma empresa de restauro como muitas que existem actualmente. A Catraia para além de recuperar, reinterpreta as peças de mobiliário e tem o complemento da junção de cortiça, produto que acrescentei ao conceito do projecto para dar mais ênfase ao próprio produto final. Cada peça que produzo é acompanhada da sua própria história, para que o cliente sinta que não está a comprar nada produzido em série, mas sim algo com valor não só histórico como sentimental. Actualmente, o projecto Catraia já tem uma colecção com mais de 13 peças únicas, desde cadeiras, mesas, caldeirões, almofadas, santos, quadros, entre outros. Nascemos em Setembro de 2012 e começámos na Oliva Creative Factory, enquanto Startup, em 2014. Em Março do mesmo ano abrimos o nosso atelier ao público na Oliva para que os nossos seguidores pudessem acompanhar mais de perto o nosso trabalho e colocar os olhos nos nossos catraios.
Foi complicado arrancar com o projecto. Para quem ganha ou fica com um projecto destes nas mãos, quando sempre disse que tudo o que menos queria era ter algo seu devido às responsabilidades, foi um choque muito grande. Aos 23 anos, teres de avançar para um sítio que temes pois tens noção de como está o mercado, tendo uma dezena de pessoas que te empurram para avançar, mete um bocado de medo mas cria-te uma certa coragem.
Dificuldades? Perceber como ganhar a atenção do público para que soubesse da tua existência. Empresas de recuperação de mobiliário hoje em dia há muitas, o que te interessa é marcar a diferença e fazer com que as pessoas se apaixonem pela Catraia. A constante publicação de passos na criação das primeiras peças, a presença em alguns eventos de jovens criadores, a constituição da empresa, o desenvolvimento de novos produtos para chegar a um público mais abrangente, todos estes passos foram e são importantes para se chegar, por exemplo, a pequenos artigos que façam com que chegues a grandes publicidades como é o caso de um programa televisivo.
A Catraia é um part-time apesar de ser um constante projecto a tempo inteiro na minha cabeça. Não existe uma fonte de inspiração concreta. Aliás as minhas melhores ideias surgem quando menos espero ou quando estou a fazer algo que não tem nada a ver, como por exemplo a cortar batatas. A nossa mente ao longo do dia, vai absorvendo uma quantidade de informação incalculável que armazena sabe-se lá onde. Para isso é preciso de facto sair, ver, visitar sítios novos, passear, ler e constatar o que se passa no mundo e nas áreas criativas, estar actualizado e ter uma mente criativa e cheia de soluções ou necessidades. A inspiração está em todo lado.
Funcionamos com dois tipos de produtos. Os catraios são as peças desenvolvidas a meu gosto e com funcionalidades definidas por mim, que estão à venda como produto final. Os catraios por arrasto são as peças que os clientes têm em casa e que colocam nas minhas mãos, definindo eles qual a cor aplicar, onde será colocado e qual será a sua função.
Um espaço como a Oliva Creative Factory é e foi um óptimo ponto de partida para os primeiros passos de uma marca e neste caso da Cataria. Neste tipo de espaços podemos encontrar pessoas que se encontram no mesmo ponto que nós, com outro tipo de produtos, bem como marcas já mais ’adultas’ que nos podem ajudar nos primeiros passos. Para além dessas componentes, o próprio espaço de constante produção de ideias e negócios é inspirador e motivador. É completamente diferente quando criamos algo novo em casa e temos mesmo que ter muita força para avançar de forma correta no negócio, do que em espaços de incubadora em que o próprio espaço e o fato de saíres de casa, conviveres com pessoas e existir a troca de ideias, puxa por ti.
É também de louvar, no caso da Oliva, o apoio existente na fase de partida referentes a informações essências, ajuda em planos de negócios, contactos, etc. Por exemplo, num espaço destes se eu precisar de uma gráfica, de alguém que me tire fotografias às peças ou até de algum tipo de complemento para as minhas peças, essas empresas existem lá, e nós temos muito incutido no espírito de trabalharmos umas com as outras e ao mesmo tempo ajudarmo-nos umas às outras e crescer. No meu caso, o facto de ser um espaço físico e neste caso histórico como a Oliva, foi um ponto essencial para a Catraia, a sanjoanense. Desde me dar a conhecer, precisar da publicidade deles, os meios de comunicação irem lá, ajudarem-me a abrir uma loja, todos estes pontos foram importantes para o nosso crescimento e posicionamento em Portugal, graças também a Oliva.
O nome ‘Catraia’ fica na cabeça e também o tipo de escrita que tenho na página de facebook faz com que as pessoas ‘engracem’ com o projecto e estejam sempre atentas. Claro que tudo o que foi construído até agora teve muito relacionado com os meios de comunicação, são eles que também te fazem crescer. Por exemplo, há um ano atrás quando a Ana Garcia do blogue ‘A pipoca mais doce’ decidiu escrever numa das suas crónicas de produtos portugueses sobre a Catraia, houve um ‘BOOM’ de 70% de crescimento, constante até agora. Os meios estão todos interligados e atrás de umas vêm outras e aparece numa serie de artigos. Fui a vários programas de televisão, as pessoas procuram pela Catraia e isto tudo fez com que abrisse um atelier de acesso ao público, quando no plano de negócios a ideia era só colocar peças à venda em vários sítios por Portugal. Todas as componentes são importantes para uma boa receptividade, o importante é manter.
Todas as marcas têm de tudo, mas já devemos estar preparados à partida. Há quem adore a ideia e queira logo comprar ou colocar peças nas minhas mãos, há quem só ache engraçado pelo tipo de linguagem existente na marca por tratar os catraios como trato, e há quem ache que qualquer um pinta móveis, ainda por cima móveis velhos que não valem nada. Existe de tudo, mas felizmente há muita gente a adorar este projecto e a ajudar-nos a crescer.
Melhorar, cada vez mais. É com erros que se vai aprendendo e isso faz parte. Iremos em breve reformular a loja/atelier para outro tipo de espaço, bem como desenvolver novos produtos e quem sabe começar a colocar à venda em outros sítios ou uma loja online.
O que posso dizer eu, que aos 23 tinha uma marca e um emprego que me consumiam os dias todos? Hoje com 25 anos sinto-me já realizada, mas não totalmente realizada. Para a idade que tenho, tendo em conta a situação do país e o número de jovens desempregados, eu não me posso queixar mas sim sentir um orgulho enorme em mim própria. A vida deu-me uma oportunidade e eu não fugi, arregacei as mangas e lutei (e muito) para chegar onde cheguei hoje, sendo que a maior parte das vezes só me apetecia desistir e voltar para o meu canto. Hoje sei que ainda tenho muito caminho pela frente e um ‘monte’ de objectivos para atingir. A nossa realização pessoal vai-se conquistando...cada patamar tem a sua importância e o seu sabor.
Considero-me uma ambiciosa lutadora que foi conquistando com o tempo aquilo que tem hoje. Nós mulheres temos essa característica, claro que umas mais que as outras, mas no fundo somos todas empreendedoras. O ponto-chave é encontrar o nosso ponto de partida e arregaçar as mangas, pois o dia-a-dia é um mundo de oportunidades que nos podem levar a muitos negócios. Basta acreditar, procurar oportunidades e, principalmente, mostrar do que somos capazes.
Planos? Ambicionar, conquistar e criar. Sei que a vida ainda me vai trazer um monte de peripécias, em todas elas eu terei um negócio a aplicar. Isto de criar, ser criativa, organizar, desenhar produtos, está-me no sangue e eu sei que na minha lista ainda tenho muitos negócios que gostaria de ter. O futuro lá saberá.
Peça favorita? O trono do galo. Adoro referências à cultura portuguesa e nesta peça tenho o galo de Barcelos (que por acaso eu colecciono). Gosto também de dar outra funcionalidade às peças e esta era um antigo candeeiro que foi comprado numa feira de antiguidades. Por fim, o que ela representa para mim... um trono, uma conquista, a Catraia. É, é de facto a minha peça.


