Valores: Autenticidade, Honestidade, Resiliência
Idade: 35 anos
Naturalidade: Porto
É com uma enorme paixão que Carla Pinheiro, mentora do projecto Eco-Animação, se entrega a cada desafio que lhe propõem. Gosta de trabalhar com todos os públicos, mas especialmente com as pessoas com necessidades educativas especiais: “Ajudam-me a crescer como ser humano e enquanto profissional”. Carla é actualmente uma das embaixadoras do Empreendorismo Feminino, em Portugal.
No momento em que decidi avançar com o projecto, estava longe de imaginar que o meu trabalho viria a ser reconhecido pela União Europeia. O desenho do “Eco-animação” começou em 2000, quando conclui a licenciatura em Educação Social. Já na altura, a motivação para criar um projecto de raiz era forte, muito embora pesasse a falta de experiências de trabalho na área da formação de base.
A paixão pelas pessoas sempre foi uma constante e, depois de sete anos de experiência em várias áreas do trabalho social e gestão de recursos humanos, deu-se o passo que faltava – abdiquei de um emprego estável, bem remunerado, seguro num estabelecimento prisional feminino e abracei incondicionalmente o empreendedorismo, criando em 2007 a Eco-Animação.
O "Desenvolvimento Sustentável" é o pilar do trabalho apresentado, que funde a Educação, o Ambiente e a Animação. A atenção do projecto foca-se no desenvolvimento de iniciativas de criatividade diferenciada para públicos dos 3 aos 103 anos. O fim último é sempre (re)educar para (re)aprender, numa lógica de educação e formação ao longo da vida. O facto de ter como público alvo um espectro tão diversificado, também esteve na base desse reconhecimento pela parte da U.E., que na altura (2010), seria o único do género na Europa dos 27.
Para se alcançar algo, em qualquer domínio da vida, também precisamos do factor sorte, além do know-how. E a sorte também se faz, e faz-se caminhando. E por ser importante o factor sorte no empreendedorismo de base feminina, considero fundamental definir metas tangíveis e criar metodologias de trabalho para as alcançar. A troca de ideias e a partilha de experiência que podem funcionar como âncoras de desenvolvimento mútuo, construindo redes e laços de comunicação que dêem suporte a esse caminho.
Hoje, compreendo que fiz a escolha acertada no momento oportuno, porque há um momento em que nós queremos, sabemos e podemos. Há vários factores que influenciam o sucesso de um projecto, mas o principal é o perfil de quem empreende, que pode determinar muitos outros factores que se cruzam e são interdependentes entre si.
A experiência que adquiri anteriormente foi, sem dúvida, basilar para sedimentar a visão estratégica e o planeamento do projecto. Permitiu-me definir o que de facto queria fazer, como queria fazer, para ir ao encontro dos públicos que queria trabalhar. O facto de ter passado por projectos em bairros sociais problemáticos, em escolas e por um estabelecimento prisional, foi muito determinante para me poder focalizar no que realmente fazia sentido concretizar no meu projecto de vida.
Desde cedo (na adolescência), envolvi-me em projectos de voluntariado, projectos de apoio na minha comunidade que também me proporcionaram experiência ricas, quer em diversidade de situações vividas quer em diversidade de contactos com pessoas de etnias e proveniências muito distintas.
Compreendo a criatividade, em parte, como sendo uma solução para um problema. Se aplicarmos isto a cada pessoa, verificamos que cada uma delas tem várias soluções para vários problemas, o que significa que cada uma delas pensa sobre uma determinada realidade e emite a sua opinião. A gestão de recursos humanos, na minha perspectiva, tende a envolver as pessoas dando-lhes o devido espaço para comunicarem e analisarem as situações de forma adequada. Se esquecermos que o maior capital de uma empresa/ organização é o seu capital humano, estaremos a negligenciar muito do potencial criativo e de inovação das pessoas que nos ajudam a concretizar metas, definir caminhos.
Quando os públicos são os profissionais e os estudantes, a grande maioria aplica o que aprende nos workshops, inclusive enviam-me comentários sobre a concretização, ora com os seus grupos ora em momentos concretos. Nos demais públicos o feedback é dado durante ou no final da acção, através do preenchimento de breves questionários de satisfação com diferentes públicos e o feedback tem sido muito positivo.
Sobre a questão da reutilização de materiais por parte dos consumidores em Portugal, considero que há já uma consciência que começa a ser trabalhada a partir de todos os ciclos da comunidade educativa, que levam e muito bem, a mensagem às famílias. Poderá ainda ser insuficiente, uma vez que as famílias têm um conjunto de prioridades instituídas antes de chegarem ao capítulo da reutilização. Contudo, acredito que a médio prazo seja uma prática que de um modo geral, as pessoas tendam a compreender que a sua atitude conta e faz a diferença.
O tema da sustentabilidade no meu caso começou ainda na infância, em casa, junto com a minha família. Embora vivesse na cidade, tive a grande sorte de os meus avós, paternos e maternos, serem agricultores e todos comermos os legumes, as frutas, os animais, o pão, entre outros, que todos ajudávamos a produzir. Parece-me que actualmente a prática da sustentabilidade é mais uma necessidade que veio para ficar e menos uma moda e, na conjuntura actual, poderá ser uma opção para repensar os estilos de vida e focalizarmos atenções no que realmente nos faz falta.
Cada público tem as suas especificidades e é desse desafio constante que eu gosto no meu trabalho. Além do mais, cada pessoa é necessariamente diferente da outra, mesmo estando integrada num mesmo grupo. Para mim é um momento de grande felicidade quando trabalho com públicos com necessidades educativas especiais, porque sei que o trabalho que desenvolvo com eles é de uma importância vital, e ajudam-me a crescer como ser humano e enquanto profissional. Recordo uma situação em particular com cegos que foi um dos mais incríveis momentos que já vivi pois para desenvolver com eles uma actividade foi necessário reorganizar toda a acção. O resultado foi melhor do que eu e eles esperávamos!
Por princípio gosto de desafios. A principal motivação para aceitar um desafio é poder trabalhar com materiais que pelas suas características seriam excluídos quase de imediato do processo criativo. Por isso passo algum tempo a observar os objectos e a concentrar-me no tipo de competências que se poderia promover com a ajuda deles no processo criativo de diferentes públicos. Confesso que me dá especial gozo trabalhar com materiais que surpreendam os públicos pela sua simplicidade de manuseamento, porque em regra geral, são esses materiais que fazem os públicos "sair do quadrado", compreender por que é importante reutilizar e a isso associar lazer, bem-estar e diversão.
Do meu ponto de vista, o empreendedorismo deve assumir contornos de um projecto de vida, ou seja, deve dar resposta às expectativas individuais (de preferência a longo prazo), ao mesmo tempo que cria valor para a comunidade onde se insere. Acredito que tem de haver uma forte motivação e uma visão concreta sobre a ideia de negócio. Acredito ainda que mesmo com baixo investimento se pode desenvolver iniciativas de empreendedorismo pertinentes e com sucesso. Acima de tudo, antes de empreender, questione-se sobre o que gostaria de estar a fazer nos próximos 5 anos – há muitas respostas que estão dentro de nós, que podem marcar pela diferença e que certamente mudarão a nossa vida.
Photos © Joaquim Luxo