Valores: honestidade, humildade e resiliência
Idade: 31
Naturalidade: Porto
Formou-se em jornalismo, mas a sua vida profissional empurrou-a para a gestão e marketing, tendo-se especializado na área. Deixou um emprego estável e arriscou tudo para dar aulas. Hoje, Beatriz, doutorada, com apenas 31 anos dá aulas em várias instituições de ensino – Universidade do Porto, Universidade do Minho, Instituto Politécnico do Porto e Instituto de Viseu - e, ainda, é co-fundadora de uma empresa de gestão integrada.
Considero que o nosso percurso profissional segue um rumo normal de acordo com as oportunidades que nos surgem na vida. No meu caso, comecei por trabalhar em comunicação institucional e daí até necessitar de ferramentas de marketing foi um passo muito pequeno, tendo enveredado depois pela Gestão e Marketing Estratégico. Na verdade, são áreas que estão claramente relacionadas. Temos por isso que ter constantemente a coragem para sair da nossa área de conforto e seguir sem medo os desafios que nos são colocados numa perspetiva de constante aprendizagem de coisas novas. Na verdade, é isso que nos faz crescer e nos dias que correm a interdisciplinaridade profissional pode ser uma chave de diferenciação e consequentemente de sucesso.
Quando estava a estudar no mestrado percebi que gostaria de dar aulas. As primeiras experiências na docência fizeram-me ter a certeza que esse seria o meu caminho. Dar aulas é uma atividade que me permite dar e receber. Mesmo quando se leciona a grupos etários mais jovens, estamos sempre a aprender com os estudantes. É isso que mais me fascina na profissão.
Houve uma altura na tua vida que preferi perder um emprego seguro e seguir o meu sonho: dar aulas. Foi um passo de coragem, mas que reflete a importância de seguirmos o nosso coração e acreditarmos em nós. Foi um passo muito atribulado, até porque inicialmente as coisas não correram como eu imaginava. A verdade é que acabou por se revelar uma decisão muito importante na minha vida e um investimento ganho. Hoje em dia não há empregos seguros nem empregos para toda a vida, por isso sou da opinião que devemos arriscar, investir em nós e procurarmos o que nos fascina e o que nos traz a felicidade ao final do dia e de manhã ao acordar.
Leccionar diferentes cadeiras em distintas instituições é exigente porque obriga a uma preparação constante e abrangente. É desafiante, mas ao mesmo tempo também permite uma melhor interligação do conhecimento entre as diferentes disciplinas – todas na área da gestão -, o que acaba por ser muito positivo no processo de ensino. Quanto à experiência em várias instituições é também muito enriquecedor. Acabo por conhecer diferentes modelos de gestão educativa e por retirar boas práticas em todas estas experiências.
O meu dia-a-dia é muito preenchido, com várias viagens, aulas para lecionar e trabalhos dos alunos para orientar.
Onde vou buscar inspiração para realizar o meu trabalho? Num sentido de missão educativa. Sinto que a geração que está de momento no ensino superior precisa de inspiração para fazer mais e melhor, quando o cenário que têm do mercado de trabalho não é muito animador. Sinto que tenho uma missão não só para ensinar mas também para motivar os estudantes a acreditarem no nosso país e a trabalharem pelo seu desenvolvimento. No caso da gestão em geral e do marketing em particular, há muito para fazer em Portugal, designadamente velhos negócios que precisam de ser reformulados ou adaptados. Procuro incentivar os estudantes a pensarem no tecido empresarial português e a procurarem o seu rejuvenescimento.
Tecnicamente estou sempre a aprender. Cada lição que preparo permite-me aprender algo novo. Aprendo também com os alunos, principalmente aqueles que trazem já experiência profissional e a discutem na sala de aula.
Tive vários professores que me marcaram de diferentes formas. Alguns pelos conhecimentos técnicos, outros pela empatia ou modelo pedagógico, outros pelo dinamismo. Felizmente tenho influências de muitos bons professores que tive a honra de conhecer.
Qual o maior contributo que quero dar ao ensino em Portugal? Um ensino aplicado, participativo e colaborativo entre estudantes, docentes e empresários.
A minha tese de doutoramento consiste em identificar que as práticas de publicidade de marketing social tendem a adotar uma comunicação positiva, incentivadora de atitudes e comportamentos saudáveis, ao invés da comunicação negativa, que explora o medo e que tem vindo a ser considerada como mais eficaz.
Quais são os maiores desafios para quem faz um doutoramento? O principal desafio não está na produção científica e nos conteúdos técnicos. Na minha opinião o principal desafio está na conjugação deste projeto com a restante vida profissional – de notar que sempre mantive a minha atividade profissional enquanto fiz o doutoramento – e com a vida pessoal. Desafios ainda maiores consistem em conseguir manter a motivação de forma constante ao longo de um período tão longo, ou ultrapassar fases em que o investigador se sente perdido, sem saber que caminho seguir.
A quem pretende seguir o doutoramento aconselho a ter a certeza que o quer fazer e ter uma motivação para tal. Ser uma pessoa com curiosidade de conhecimento, com capacidade crítica e reflexiva e acima de tudo muito metódica
Por que decidi criar a minha própria empresa? O mundo académico precisa de estar hoje em dia em sintonia com as necessidades das empresas. Logo, decidi manter a minha atividade profissional como consultora de marketing e comunicação para assim poder manter-me atualizada no que respeita à prática e por outro lado trazer a problematização dessa mesma prática para o campo teórico, permitindo-me a investigar em termos académicos os problemas de gestão que mais afetam e interessam às empresas. Criei a empresa com dois sócios que partilham desta filosofia e é nesta orientação que queremos que a Five by Five, Consulting & Research possa marcar a diferença, enquanto consultora de gestão integrada.
Com a crescente formação dos técnicos que trabalham nas empresas portuguesas, ao nível de licenciatura, mestrado, formação executiva e até mesmo doutoramento, considero que esse gap entre o ensino universitário e o mundo do trabalho é cada vez menor. Por outro lado o ensino universitários tem vindo a mudar e a ser cada vez mais adaptado ao mundo empresarial. O modelo de Bolonha veio trazer mudanças nesse sentido, fazendo com que a componente prática da formação universitária tenha um papel cada vez maior aliada à componente teórica aplicada.
Nenhum dos passos que tenho tomado reflete uma ambição que tivesse previamente. Em criança sonhava ser uma profissional bem sucedida
Photo© Mafalda Pessoa Jorge