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Ana Rita Gomes: "A areia é ouro."

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Valores: honestidade, solidariedade, empenho

Idade:​ 37 anos

Naturalidade: Porto

Foi através do voleibol de praia que Ana Rita Gomes descobriu o potencial da areia e que a levou a fundar o primeiro clube desta modalidade em Portugal. Hoje, detém a Academia Praia que conjuga formação, competição, recreação e necessidades educativas especiais. Ao mesmo tempo, professora, comentadora, treinadora, Ana é 100% pela educação através do desporto. “É um palco privilegiado para o desenvolvimento de capacidades que estão latentes porque apela à criatividade, à superação e ao respeito.”

A minha paixão pelo voleibol de praia surgiu através de experiências ricas (pessoais e profissionais) neste contexto e do exemplo de uma mulher extraordinária, Jaqueline Silva!

O projeto Academia Praia, que hoje está a conhecer uma nova fase, foi surgindo a partir de pequenos projetos de âmbito institucional (FPV, Ministério da Educação, Ministério dos Negócios Estrangeiros, municípios, associações e clubes) e privado (atletas e treinadores de voleibol de praia, nomeadamente no feminino), conjugando neste momento a formação, a competição, a recreação e as necessidades educativas especiais em diferentes modalidades como o volei de praia, o speedminton, o râguebi...

A necessidade de tornar a experiência cada vez mais positiva para quem se atreve a pisar a areia e que privilegia a proximidade com o mar e o contacto direto com a natureza, obriga-nos a uma construção contínua e em espiral. A modelação da dinâmica desta experiência de acordo com o conhecimento específico de diferentes áreas de investigação dá-nos as coordenadas polares que nos conduzem a um cada vez maior bem-estar!

O mar é a nossa maior fonte de metáforas. Permite-nos navegar. A areia é a base para a efetiva construção dos sonhos. A areia é ouro.

Por ser um terreno irregular, a areia oferece maior instabilidade, logo exige mais coordenação e equilíbrio, estimulando a consciência corporal, a noção do posicionamento do seu corpo no espaço. Assim, diferentes tipos de público podem usufruir do potencial da areia com diferentes objetivos (potenciar o treino nas suas várias dimensões - físico, mental, técnico-tático, reabilitação física/mental, reeducação postural, etc). Além disso, para determinados públicos (crianças, idosos, pessoas com necessidades educativas especiais), a areia não limita nem inibe tanto a ação quando há risco de queda.

Onde vou buscar a inspiração diária? A todas as pequenas conquistas de um caminho percorrido.

A experiência em várias instituições do desporto  e no ensino público foram importantes para perceber que queria ter um projecto meu. Permitiram-me ser coerente com aquilo que acredito e aquilo que faço. Isso pode (difícil, mas pode) seja qual for o sistema ou contexto no qual estejamos integrados.​

Controlamos apenas aquilo que depende de nós. Se atuamos numa instituição que se rege por uma hierarquia de valores que varia de acordo com objetivos a curto prazo, perdendo sempre de vista a sua real missão, o desgaste acaba por não promover a criatividade e o bem-estar (condições essenciais para o sucesso).

Também a minha passagem por Timor, há alguns anos atrás, para ensinar o português através do voleibol às crianças de lásignificou e significa que todas as experiências poderão ser trampolins para um cada vez maior autoconhecimento, conhecimento dos outros e do mundo e, desta forma, podermos contribuir mais eficiente e eficazmente para um bem-estar comum.

meu livro - construção linguística dessa experiência - permite a partilha de uma história que poderá incentivar a uma nova investigação e, consequentemente, à produção de mais conhecimento em diversas áreas (científica, social, pessoal, política, económica). Por outro lado, investigar a nossa ação, promovendo a construção de ferramentas e/ou competências que nos permitem conhecer melhor os outros e os diferentes contextos. São estas vozes (umas mais formais – estudos científicos – do que outras – simples partilhas de vivências; umas mais altas do que outras) que despertam consciências, que fazem que o mundo pule e avance.

A nossa visão do mundo muda sempre, com qualquer experiência. Tendo em conta a riqueza da experiência em Timor, creio que ganhei umas lentes bem graduadas que me permitem ser e estar neste mundo com a minha hierarquia de valores ainda mais vincada, tal é a nitidez com que me surge a injustiça.

Liderar diferentes projectos na área de desporto, abre as portas para a construção de um maior autoconhecimento, do conhecimento dos outros e de outros mundos. Desses projectos levo e trago sempre lições de respeito, solidariedade, perseverança, empenho e transcendência.​

A paixão pela educação, no e pelo desporto, falará sempre mais alto!

O espírito competitivo está presente em todos os meus projectos. Empenho-me sempre para render o melhor possível, persevero em situações menos positivas e procuro sempre vencer, com lealdade e respeito.​

Acredito no potencial do conhecimento como um todo, na relação holística entre os diferentes domínios de intervenção. Acredito no potencial de um clima de bem-estar e de criatividade. São esses pilares que me incentivam a corrigir frequentemente a estrutura e o processo de novos projetos até sentir que permitem, efetivamente, o cumprimento da sua missão.

Gosto do mar calmo, mas gosto, sobretudo do mar com ondas. O papel de educadora/formadora impõe-me estar sempre atenta às variáveis que entram no contexto do processo de ensino-aprendizagem (seja ele em que domínio for), à avaliação permanente do contributo de cada uma delas nos diversos momentos, à interpretação de resultados e estabelecer novas metas, com esses novos dados. Por isso, o mar calmo serve apenas para apreciar um momento de chegada, mas até aí estamos já a apreciar as novas ondas que nos levarão a outro porto.

Agradeço a todos os que, diariamente, acrescentam ondas no “meu” mar e que me obrigam, constantemente, a nele navegar cada vez com maior perícia, esteja ele calmo ou mais revolto.

É pouca a criatividade na criação de novos negócios ligados ao desporto e é pouca a cultura desportiva porque exige disponibilidade para um trabalho intenso e holístico. Quem se entrega à séria a este desafio consegue desenvolver as competências essenciais a um projeto de sucesso.

“Mais desporto. Menos crise.” é, sem dúvida, um excelente lema! O desporto é um palco privilegiado para o desenvolvimento de capacidades que estão latentes porque apela à criatividade, à superação e ao respeito. A saúde física e mental permite-nos o equilíbrio essencial para potencializar ao máximo os recursos de que dispomos, individual e coletivamente.

Aos jovens de hoje que querem seguir a área de desporto como profissão, recomendaria em qualquer outra profissão - escolherem algo que os faça felizes porque permitirá que se entreguem de “corpo e alma” em todos os momentos com quem quer que seja -  acrescentando que, na minha opinião, escolheram o meio privilegiado para o conseguir.

​Photo © Joaquim Luxo