Valores: Persistência, na luta pelo sonho, teimosia, no bom sentido, e ser verdadeira, sentimento de partilha
Idade: 28 anos
Naturalidade: Leça da Palmeira
Formada em design gráfico e publicidade, com uma pós graduação em comunicação e gestão de marcas, Ana trocou os computadores pelas colheres de pau. O doce com nome de bailarina russa, importado da Austrália e da Nova Zelândia, impediu-a de emigrar para Londres. Foi em Portugal, no Porto, que a Miss Pavlova nasceu, cresceu e conquistou os gulosos.
Trabalhei em várias agências de comunicação, até que em 2013 fiquei desempregada. Foi nessa altura que comecei a pensar em ter algo meu. Queria um projecto que pudesse desenvolver. Sempre achei que me faltava alguma coisa em todos os trabalhos que tive. Não gosto de fazer a mesma coisa dia após dia. Queria ter alguma liberdade, fugir à rotina. Com um negócio meu isso era possível.
Não sabia o quê, por isso fiz todo um processo de investigação e pesquisa. Queria descobrir qual era a área que mais me interessava, como estava o mercado. A um nível pessoal, queria perceber do que é que eu gostava, com o que é me identificava. A minha mãe é mais salgados, eu sou mais doces. Podia ser por aí, mas no início não tinha a noção concreta do que queria. A comida era uma paixão mas não sabia bem como materializar isso.
Sempre gostei de experimentar receitas diferentes, mais até pelo desafio. Via programas de culinária na televisão, seguia sites e blogues. Gostava de me testar. A primeira vez que fiz macarrons foi uma aventura. Resolvi fazê-los para oferecer no Natal e foi até à última hora para conseguir terminar os macarrons e as caixas para os colocar.
Descobri as pavlovas no Masterchef Austrália, ainda antes de ter ficado desempregada. Fiquei curiosa e resolvi experimentar. Comecei a levá-las para os jantares de amigos e de família. Percebi que as pessoas gostavam. Ficavam surpreendidas com o sabor, porque pensavam sempre que seria mais doce do que na realidade era. Quando vim para casa, em 2013, foi quando se deu o clique.
Uma noite estava quase a dormir quando me lembrei… Ah! A pavlova! Será que funciona? Nunca mais me saiu da cabeça a ideia. Toda a gente me chamou louca, até a minha mãe. Como é que eu as ia transportar? Quem é que as ia comprar? Mas eu sou uma apaixonada pela comida.
Tive a ajuda de uma prima arquitecta que na altura também estava desempregada. Devo-lhe o empurrão inicial. Ela deu-me muita força para arrancar com o projecto. Entretanto ela arranjou emprego na área e eu continuei sozinha.
A primeira grande dificuldade foi conseguir a pavlova ideal. Tinha uma receita base e depois comecei a fazer algumas alterações para criar as minhas pavlovas. Tinha objectivos mas nunca tive uma ideia final do que queria. Fui experimentando até chegar ao produto final. Foram muitas tentativas erro. Depois veio a burocracia, o financiamento. Saber o que era preciso em termos de papéis, autorizações. Analisar a rentabilidade do projecto. Muitas dores de cabeça mas tudo se fez.
Queria a palavra pavlova no nome e não queria desprestigiar o doce. Todo o conceito tinha de o enaltecer e acho que consegui. O cor-de-rosa, as riscas, o toque clássico, a história da bailarina. Queria tudo isso impresso no nome. Tive a sorte de, ao longo do meu percurso profissional, ter conhecido pessoas generosas, que me ajudaram imenso em todo este processo. Uma delas é a Catarina, que é copy, Eu chamo miss a muita gente e a Catarina sabe disso. Quando ela me apresentou uma lista de nomes e eu vi Miss Pavlova, foi amor à primeira vista. Tem tudo a ver. Personifica sem ser literal. Dá para brincar. Fica no ouvido. Agora até a minha mãe é a Madame Pavlova.
Lancei a Miss Pavolva em Setembro de 2013. Comecei a participar em mercados de rua, no Porto, o Urban Market e o Cedofeita Viva. Foi complicado. Era final do Verão e todo o processo de logística e transporte obrigava a muito trabalho. Foram tempos cansativos e foi preciso querer muito para não desistir. Se fizéssemos contas ao dinheiro gasto e ganho, teríamos com certeza desistido. Foi necessária muita persistência para contrariar a vontade de desistir.
Inspiração? Estética aliada ao sabor. Inspiro-me em tudo. Por exemplo, as redes sociais, como o pinterest e o instagram são óptimas para isso. Em termos de sabor, penso muito numa lógica de explorar os sentidos. A textura, as cores, os produtos são essenciais. Tenho uma parceira com as Ervas Finas da Graça Saraiva e utilizo as flores comestíveis delas nas minhas pavlovas. Acredito na partilha conhecimentos e experiências com pessoas envolvidas em projectos diferenciadores, como este.
O feedback tem sido óptimo. Agora que temos um espaço físico, na Baixa, na loja Almada 13, é diferente. As pessoas vêem cá, provam e elogiam o espaço.
Quando a marca ganhou raízes e o projecto provou ser viável, comecei a pensar que era fundamental ter um espaço. Foi quando surgiu um convite do Almada 13. Queriam ocupar o espaço com um projecto diferente. Uma das marcas representadas na loja era minha cliente e sugeriu-nos. Depois do primeiro contacto, começou o namoro. Eu estava num impasse: avanço ou não? Ia ter mais trabalho. Valeria a pena? Era um investimento enorme a todos os níveis, pessoal e profissional. Fui em frente e não me arrependo!
Gostava que o espaço também tivesse uma vertente cultural e estamos a conseguir. Temos uma exposição de ilustrações das minhas pavlovas que nasceu por acaso. Na altura pensei que giro, giro era que fazer alguma coisa relacionada com comida, melhor ainda com doces e espectacular com pavlovas. Falei com a Nham Nham! e as responsáveis mostraram-se logo disponíveis para ajudar. Os ilustradores desenharam as minhas pavlovas e agora quem visita a loja pode vê-las. Divulgamos o nosso produto e a ilustração do Porto, que ainda é pouco conhecida. De futuro queremos mais projectos inovadores.
Estive quase para emigrar para Londres e a Miss Pavlova foi a justificação perfeita para eu ficar. Quando comecei nunca imaginei chegar aqui. Superou todas as minhas expectativas.
A comida marca a vida das pessoas e é isso que a Miss Pavlova quer. Pode parecer um cliché mas é verdade. Saber que o nosso doce vai estar presente num momento importante de reunião e partilha de um grupo de amigos, de uma família, é importante para mim.
A minha pavlova favorita? Primeiro foi a exótica, depois a floresta negra e agora a de chocolate e lima. A tendência é sempre para o mais ácido.
http://www.misspavlova.pt/