Pauline Nguyen – Não há tempo a perder!

Valores: coragem, integridade, inspiração

Quando tinha 3 anos, a família foi forçada a deixar o Vietname e a fugir de barco para a Tailândia, onde viveu um ano num campo de refugiados. Aos 4 anos adoptou a Austrália como pátria. Cresceu numa casa onde o rigor e a rigidez das regras andavam de mãos dadas. Aos 17 fugiu e aprendeu a ser adulta sozinha. Fez as pazes com o passado e hoje é uma mulher realizada. Sócia num dos restaurantes mais famosos de Sydney, Red Lantern, é uma escritora premiada, uma oradora aplaudida e uma mãe orgulhosa.

Os negócios são a minha prioridade profissional. É onde me sinto mais realizada. Temos 3 espaços na cidade e empregamos 60 pessoas. É uma grande responsabilidade manter tudo a funcionar ao mais alto nível e com bons resultados. Sou boa no que faço mas quero sempre mais e melhor. É um desafio constante e, ao mesmo tempo, uma fonte de inspiração, porque conhecemos gente nova e damos prazer a quem nos visita com a nossa comida.

Desafio-me a mim própria com a escrita. É uma forma de sair da minha zona de conforto. O livro ‘Segredos da Lanterna Vermelha’ foi escrito para a minha filha. É a minha história, da minha família e senti necessidade de o escrever. Os textos que escrevo para jornais e publicações são sempre convites. Nunca aceito quando me contactam a primeira vez. Respondo que não tenho tempo, que não é oportuno mas eles insistem duas, três vezes e acabo por voltar atrás e aceitar. Nessas alturas penso que lição me quererá dar o universo.

Gosto de desafios mas não os procuro porque isso tira-me tempo. Eles surgem naturalmente mas sempre que experimento algo é para ter êxito. Se não porque o faria? Era um desperdício de tempo e de recursos. Tenho mentores que ouço e que me aconselham. Se retiro tempo para experimentar coisas novas, tenho de estar segura que vai ser bem empregue esse tempo.

Sou convidada por universidades, instituições para dar palestras sobre os mais variados assuntos. Tanto posso falar sobre imigração, violência doméstica como empreendedorismo, negócios. Têm de ser temas importantes para mim. Quando me dirijo à audiência faço-o sempre com um objectivo em mente: tocar as pessoas. Escolho as palavras com muito cuidado porque quero que elas tenham efeito em quem está a ouvir. O meu discurso tem de mexer com quem está sentado à minha frente. Eu sei que faço a diferença. Vejo nas expressões, nas cartas que recebo. Se não o conseguir, será uma perda de tempo. 

O tempo é importante para mim. Quando assumo um compromisso, faço uma escolha e é para ser bem-sucedida. Por exemplo, quando aceito o convite para falar numa universidade, planeio com todo o cuidado o que vou fazer. Despendo tempo a pesquisar, a ler, a preparar o discurso, a dirigir-me para o local e a falar. Tempo esse que eu até preferia gastar com a família, a passear. Se não for para ter sucesso, foi tudo uma perda de tempo. Trabalho desde os 7 anos. Ajudava os meus pais no restaurante e os horários eram para cumprir. Era preciso preparar tudo para cozinhar, emprartar, servir. Se perdesse uns minutos com alguma coisa, a sequência era posta em causa. Se perdesse o comboio, tinha de ir no seguinte e chegar mais tarde. Perder tempo, não cumprir horários era sinónimo de estar em apuros com o meu pai.

Quero ser um exemplo para os meus filhos. Não me quero acomodar. Quero que eles sejam quem são, como são e que aceitem isso com toda a naturalidade. Em casa, cresci com um pai autoritário a abusivo, na escola sofri com o racismo. Queria ser igual aos outros mas agora compreendo a importância da nossa singularidade. Não é importante dizer aos meus filhos é esta a história do Vietname ou de onde venho. O mais importante é eles saberem quem são. O meu filho mais novo começou as aulas há pouco tempo e uma manhã, quando o fui ajudar a vestir-se, reparei que uma meia era mais curta do que a outra. Alertei-o e ele respondeu que sabia mas que as queria levar assim para ser diferente dos outros. Expliquei-lhe que ia ser chamado a atenção na escola por causa disso e ele apressou-se a arranjar uma solução. Ia dobrá-las junto ao tornozelo porque assim quem visse não sabia que as meias eram diferentes mas ele sabia que não era igual aos outros. Fiquei feliz.

Houve dois prémios que me marcaram. A nível pessoal, a distinção de escritor revelação do ano dos prémios da indústria australiana de livros, em 2008. Foi completamente inesperado. A nível profissional, o Telstra Australian Business Awards NSW 2012 atribuído ao restaurante. Só para completar a inscrição do Red Lantern precisei de 70 horas para responder a todas as questões.

Sou agradecida pelo meu passado. Fiz as pazes com ele e não penso mais nisso. Para quê? O que conta é o agora. Isso, sim, é importante. Vivia no medo. O meu pai conduzia-nos com medo e crescer foi sobreviver aos abusos deles. Quando pensei ter filhos tive receio, porque não queria de forma alguma ser igual. Fiz uma escolha... Rodei-me de bons amigos, boas influências e assumi um compromisso comigo mesma. A partir daí desencadeou-se todo um processo de mudança interior e de reencontro. Passei a viver sem medos.

Como concilio tudo? Estou sempre a correr mas há coisas não negociáveis. Por mais trabalho que haja, as manhãs são para os meus filhos. Faço exercícios duas ou três vezes por semana. Todos os dias medito. Durmo quatro horas e é suficiente. Não gosto de desperdiçar tempo. Vou aos limites. Sou de extremos. Quem procura uma vida equilibrada, mais cedo ou mais tarde, acaba desapontado. Eu estabeleço prioridades e vivo de acordo com elas.

Claro que me vejo como uma mulher de sucesso. Porquê? Simplesmente porque me pergunto sempre e a seguir?

Como de defino? Sou uma pessoa aberta… Aberta a novas ideias, a novas pessoas, a novas experiências. Tenho o coração aberto.

Arrependimentos? A primeira coisa que me vem à cabeça foi a forma como lidei com a velhice da minha avó. Era uma jovem imatura, não tinha noção das coisas e não soube lidar com a demência da minha avó. Não compreendia a situação e não a tratei muito bem nessa fase. Era uma teenager estúpida.

Olho à volta e sou grata por tudo o que consegui. O futuro? Conservar a minha saúde. Manter-me em forma. Desafiar-me mentalmente. Levar o Red Lantern para fora da Austrália. Esse é o meu grande projecto.

O dia perfeito? Todos os anos gosto de conhecer três países ou locais novos. Acordar num destino desconhecido, sem ter de dar explicações a ninguém, e poder explorar o desconhecido sem tempo limite.