Valores: partilha, amizade, perseverança.
Idades: 53 (Inês) e 52 (Mafalda)
Naturalidades: Lisboa
O gosto pelo voluntariado juntou-as. Inês e Mafalda deixaram para trás o mundo do turismo e da gestão, para em conjunto abraçarem um novo e aliciante desafio. Estávamos em 2010 e nascia assim, da vontade das duas voluntárias, a Associação Projecto Reklusa.
O início da Reklusa nasce da ideia que tive (Inês Seabra), durante as visitas ao Estabelecimento Prisional de Tires, como voluntária da IPSS – Associação “Dar a Mão” (desde o ano de 2000). Apercebi-me que existiam talentos que mereciam ser explorados, mulheres que precisavam de um sentido para uma vida enclausurada e, acima de tudo, uma segunda oportunidade. Tomei a decisão de criar a Associação Projeto Reklusa, em conjunto com a Mafalda Lima Raposo (voluntária e fundadora) em 9 de Junho de 2010, sendo desde Novembro de 2012, uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS).
O nosso objectivo é proporcionar à população reclusa as ferramentas necessárias para se tornarem mais confiantes e capazes, para aumentar a sua participação e integração na sociedade. Apostar na formação, com vista à aquisição de novas competências e aptidões e gerar oportunidades de emprego.
O que nos levou à concretização do projecto foi o facto de entendermos que as nossas primeiras malas confecionadas no estilo patchwork e crochet, tinham muita saída. Eram modelos únicos e exclusivos e portanto eram muito comerciais.
Foi algo complicado arrancar. No início a vontade de ambas era constituir uma empresa social mas visto que não existe esta natureza jurídica de negócio social, acabámos por constituir uma Associação sem fins lucrativos, no ano de 2010 e desde 2012 somos uma IPSS.
As maiores dificuldades do nosso projecto dizem respeito à sustentabilidade financeira e, nomeadamente, aos recursos humanos. Até ao final de 2013 toda a equipa da Reklusa era voluntária e só no início de 2014 é que contratámos a primeira colaboradora remunerada para um cargo administrativo e de atendimento de loja, através do IEFP. Outra barreira que conseguimos ultrapassar foi o escoamento dos produtos, através da aquisição de uma loja cedida pela CML e remodelada com o apoio de várias empresas parceiras, que inaugurou a 7 de Novembro de 2013. É um projecto a tempo inteiro. As fundadoras são voluntárias e não remuneradas.
A criação da mala Magnólia (colocar foto ver Reklusa pastas, produtos coleção out-inv 2011/2012) é da autoria da designer Inês Correia, ex-aluna do IADE do curso de design de moda. Data do ano de 2010 e já se tornou uma mala ícone da marca Reklusa. É de burel e pele. Quanto ao design e inspiração, anualmente lançamos duas coleções e contratamos jovens designers pontualmente. Quanto às matérias-primas há sempre uma preocupação de selecionar produtos portugueses. Às vezes temos doações de tecidos e matérias-primas, sendo através do produto que criamos os modelos. Actualmente estamos a introduzir na maioria das malas, manufactura artesanal (crochet e tecelagem com lãs de arraiolos).
O feedback do público português tem sido bastante positivo e os clientes vêm à nossa loja física propositadamente. Quanto ao público internacional constatamos aqui na loja quase diariamente que apreciam muito o nosso projeto e compram os produtos da marca Reklusa com muita satisfação. A maioria das nossas vendas são na época natalícia e estamos sempre presentes no C.C. Amoreiras e no grupo Sonae (Colombo ou NorteShopping)
O balanço até à data tem sido positivo e temos desenvolvido novas apostas para que o projeto cresça de forma saudável e sustentável. Novamente com o apoio da CM Lisboa e devido ao facto de termos ganho o prémio EDP Solidário 2014, obtivemos o financiamento para a remodelação da nova oficina Reklusa, espaço contíguo à nossa loja da Rua das Amoreiras. A oficina inaugurou a 7 de Maio de 2015 e é onde, durante dois anos, irão trabalhar 10 ex-reclusas de forma a efectivar a sua inclusão profissional e social.
Realizadas? Sim, sem dúvida. Estamos muito realizadas, sentimos que estamos a mudar vidas e a dar uma segunda oportunidade a seres humanos que necessitam, pois trata-se de uma população muito carenciada e excluída.
Sim, achamos que somos empreendedoras. Temos sempre avançado com o projeto e corrido riscos. Somos persistentes!
Planos para o futuro? Aumentar as vendas/internacionalização. Apoiar mais reclusas/reclusos. Criar uma rede de parceiros/empresas para a empregabilidade na reinserção social. Criar parcerias com designers portugueses. Desenvolver o marketing/comunicação com uma agência. Criação de uma loja-on-line.
Não temos especialmente uma peça favorita. Cada mala/modelo tem a sua história. Por exemplo, a lancheira Violeta é uma mala que tem o nome da guarda prisional de Tires que supervisiona a oficina.
A Reklusa é uma marca de malas que se encontra no mundo da moda e por sua vez é um negócio social. As reclusas fazem a confecção das malas e ganham à peça. As receitas revertem para o projeto para assegurar a sustentabilidade do seu negócio.
http://www.reklusa.pt/