Valores: espontaneidade, naturalidade, criatividade
Idade: 35
Naturalidade: Faro
Brígida Brito sonhou ser estilista, estudou relações públicas e descobriu que, afinal, é na fotografia que encontra felicidade. No seu percurso, descobriu que tirar fotos "em família" é a sua praia. Assim foi ficando cativa de registar a vida de alguém desde o primeiro dia e se assumiu como fotógrafa de grávidas, recém-nascidos e crianças. "Quero continuar e fazer perdurar no tempo este meu projeto em que a baby art torna a minha abordagem mais direccionada e específica."
Foi aos onze anos que julgo ter ganho noção do potencial da fotografia, mais precisamente no momento em que a minha irmã, sete anos mais velha, comprou uma máquina fotográfica. Logo que pude, adquiri a minha própria máquina e passei a fotografar tudo o que me aparecia à frente!
No início, a abordagem foi igual à de tantos outros que se deixam apaixonar pela fotografia, semelhante à de amadores e entusiastas: fotografar paisagem, os amigos, momentos de festa... Com o tempo a diversidade surgiu na mente, a criatividade foi sendo estimulada e naturalmente o deleite de passar horas a olhar pela lente foi crescendo.
Foi algures pelos vinte e picos que, finalmente, assumi que a minha verdadeira felicidade passava mesmo por adoptar a fotografia para a mim e na minha vida. Por muito que tenha tentado estudar outras áreas - sonhei ser estilista e cheguei a estudar relações públicas -, só mais tarde descobri que, afinal, é a contribuir para registar os momentos especiais das pessoas que me sinto plenamente preenchida.
Comecei a fotografar profissionalmente mas só passados muitos “clicks” é que encontrei a vertente da fotografia que realmente me fazia vibrar, me viria a tirar o sono de tanto entusiasmo e revelar-se a minha verdadeira vocação. Afinal de contas, a maioria dos fotógrafos passa por várias etapas até encontrar o que realmente se torna apaixonante e viciante fotografar! Vim confirmar a minha paixão por fotografar grávidas, bebés, crianças, famílias num sentido mais lato, quando o toque da varinha de condão me colocou no papel de mãe.
O cenário para fotografar o público-alvo que fui, a pouco e pouco, elegendo como especial é sempre muito próprio, muito à medida dos momentos, de cada personalidade, de vivências únicas. Cada sessão tem tanto de genuíno, como de inédito por vezes!
Fotografar etapas tão marcantes como a gravidez, os primeiros instantes de vida, as traquinices da infância, ou os sorrisos trocados entre seres de uma nova família acabada de surgir, é hoje o meu mundo. Costumo dizer que é fantástico trabalhar com quem nos desperta os sentidos e as emoções, as crianças! Eu ainda posso brincar com elas entre flashes e no fim ser retribuída por isso!
A minha maior inspiração é, hoje, o meu filho. As opiniões dividem-se bastante, o que respeito, quanto a fotografar o momento do parto, aqueles instantes que vejo como mágicos e únicos. Gostava de ter retratado o nascimento do meu filho. Foi, sem dúvida, um dia inesquecível! Entendo que uma mãe não é a espetadora, e por muito envolvida que esteja no parto, muitos dos instantes ficam esquecidos na memória e apenas gravados no coração. Digo, muitas vezes, que ando a redimir com os recém-nascidos que faço as fotografias que não tirei do meu próprio filho.
A identificação e a confiança são cruciais no meu trabalho. O facto de ser mãe como tantas outras que me procuram dá-me “armas” para ir direitinha ao que mais as fascina nos seus pequeninos, aquilo que nunca querem perder, esquecer com o passar dos anos e o crescimento de um filho. A gratidão das mães que, afinal de contas, acabam por ainda ser as mais entusiastas de dar o passo de fazer uma sessão fotográfica, por vezes chega a comover-me. Nessa altura ganho a minha melhor recompensa: a felicidade que encontro no rosto dos progenitores.
Sinto a ternura e a esperança que um novo ser traz, espalhar-se como que um surto por toda uma família e amigos próximos. Quem está “à margem”, como eu, a registar os momentos mais deliciosos vê o ambiente que se gera com outros olhos, e nessa altura tudo parece simplesmente perfeito! E é essa esperança e perfeição que procuro captar com a minha lente, para que ao ser recordada dias, semanas, anos, décadas mais tarde, seja uma renovação de um ideal.
Nunca sei o que vai acontecer com os pequenos “atores”. Esse aspeto energiza-me de uma forma sem explicação. Aqueles olhares curiosos quando vêem uma máquina fotográfica, rapidamente se tornam espontâneos, distraídos e exploradores sem eu própria dar conta. O que conta no mundo de encantar infantil é a brincadeira, e eu faço questão de fazer parte dela, aproveitando discretamente para lhes apanhar os melhores momentos, lá pelo meio.
Há uma pergunta que faço sempre no final das sessões: “Divertiram-se?” Até hoje nunca ninguém teve a coragem de dizer que não. E, como também eu enquanto pessoa tiro o maior partido das sessões, acredito que as respostas sejam mesmo sinceras. E, a pouco e pouco, apresentam-me apenas uma página em branco e desafiam-me a pintá-la com o melhor que observar. E, a partir daí é “ouro sobre azul” ainda que goste que as pessoas dêem uns “lamirés” do que lá no fundo idealizam.
Mega produções ao jeito de mega eventos, com sessões rígidas na “loja do fotógrafo” e até desesperantes faz parte do passado. É verdade que ainda noto algum estigma de ir ao fotógrafo, à “loja do fotógrafo” ou até contratar uma sessão. Mas o banquinho da família firme e estática cheia de luzes artificiais à sua volta, esse já não existe mais.
Descrição, paciência e dedicação. Estes são os três atributos de ouro que considero fundamentais para quem segue a arte de fotografar. Um bom fotógrafo deve manter-se um pouco à margem do que está a acontecer, intervir o menos possível no acontecimento, e retratar da forma mais fiel as pessoas, o acontecimento, o dia especial...
Tornei-me especialista na arte de captar felicidade e eternizar o tempo. E procuro apenas deixar nas mãos para quem trabalho o passo de emoldurar e contemplar. Quero continuar e fazer perdurar no tempo este meu projeto em que a “baby art” torna a minha abordagem mais direccionada e específica. Desde o momento que encontrei o meu “poiso” nas fotografias de bebés, crianças e famílias que não quero mais sair dele, mas sim fazer melhor a cada dia e encontrar nesta e naquela sessão novos enquadramentos.
Fotografar é guardar memórias, prender para sempre um momento e um sentimento que nos é especial. E, dia após dia, este lema tem vindo a fazer mais e mais sentido no meu álbum de vida.
Photos © Rui Lebreiro - Abílio Soares - Guilherme Amorim