Em determinado momento da série Breaking Bad, Skyler, mulher de Walter, decide que tem de voltar a trabalhar para ajudar a pagar as contas. Grávida e já de barrigão, volta ao seu antigo local de trabalho para responder a uma nova vaga.
É nesta altura que dou por mim a pensar: como é que ela espera que a contratem sabendo que dali por algumas semanas vai ter de entrar em licença de maternidade, durante não sei quantos meses? Certo é que o patrão a contrata sem fazer qualquer referência a esse assunto!
Se calhar essa situação nem tem porque ser assunto.
Em quase todas as empresas onde trabalhei tive colegas mulheres. Nesses tempos, sempre achei pouco felizes os comentários de alguns, e até de algumas, a referir a maçada para a empresa, que é o de encontrar alguém que substitua temporariamente a colaboradora ausente. Ter de voltar a dar formação, dar tempo de integração... Mas então não precisamos todos de ter mulheres que assegurem a nossa continuidade na terra? É como se as empresas não precisassem de bebés... os novos trabalhadores e clientes do futuro.
Bom, então, porquê e/ou quando é que esta situação passou a ser assunto na minha cabeça?
Como homem sei que ainda não há uma total igualdade de género. Há as piadas, os comentários, as comparações entre nós, no trabalho, no dia-a-dia e em casa. Recordo-me de um dia em que estou a lavar a loiça do almoço e o meu pai aproxima-se para me cutucar: com duas mulheres em casa e tu é que estás a fazer isso?!
Uma boa parte da evolução da publicidade é um excelente retrato de como as mulheres têm vindo a ser vistas pela sociedade. (Já agora, e ainda neste campo, o homem também pode ser a vítima, tal como demonstra este outro artigo.)
Se esta é a nossa sociedade, já era de esperar que nos negócios não fosse diferente. Inclusive, os populares programas Shark Tank e Dragon’s Den comprovam isso mesmo. Em 5 milionários investidores, o normal é haver apenas uma mulher, duas em dias de milagre e nenhuma de tempos a tempos.
A ideia que tenho é que a própria mulher de sucesso é muito exigente com os seus pares. Isto é mesmo fácil de verificar logo nas pequeninas coisas. Tenho uma amiga que não gosta muito de usar sapatos altos no dia-a-dia, porque deixavam-lhe os pés nas últimas. Mas há um dia em que é a própria chefe dela que lhe pergunta se ela não tem dinheiro para comprar uns sapatos altos para usar no local de trabalho. Trata-se de um trabalho de escritório... Eu duvido que um homem fosse dizer isto a uma mulher.
Hoje, esperamos que as mulheres sejam inteligentes, independentes, boas profissionais, boas donas de casa, boas esposas, boas mães, boas educadoras, e... boas no geral! Acho que tudo isto é pressão a mais e quase impossível de alcançar. Mas talvez por estar estabelecida a ideia de que só com este esforço todo é que uma mulher consegue chegar longe, nem as próprias facilitam a vida umas das outras!
Assim, o que mais parece é que nem homem nem mulher gosta muito de ter o sexo forte no comando. E isto tudo porque a Skyler me fez refletir quando pensou em voltar a trabalhar durante a sua já avançada gravidez.
Não sei se as mulheres são mais inteligentes ou não que os homens, sei que por força de toda a falta de igualdade, foram desenvolvendo melhores hábitos e ferramentas de organização, estratégia e até de decisão, que os homens. Juntando ao facto de estarem em superioridade numérica, é também de esperar que mais tarde ou mais cedo haja um Shark Tank ou Dragon’s Den com apenas um homem investidor.
Mas dadas as adversidades já referidas e de tantas outras, como será feito esse caminho? Julgo que não será uma questão de luta por igualdade de oportunidades, ou dos apelos ao feminismo das mulheres e dos homens, nem sei muito bem do impacto real que a discriminação chamada de positiva possa estar a ter neste assunto... Acredito muito mais que esse caminho até ao poder irá fazer-se pelo empreendedorismo. Elas têm todas as ferramentas necessárias para vingar com as suas próprias empresas.
E o mundo masculino adora fazer negócios com mulheres.
Por Domingos Pereira
Fundador da empresa Worklovers e mentor da plataforma MUFIP, mentor dos eventos Ignite Algarve, formador e co-autor do livro SOS Negócios.