Começo por ser provocadora e dizer desde já que não gosto de dar conselhos (nem gosto que me deem a mim!). As minhas circunstâncias, a minha vida, os meus recursos, eu própria… tudo é único e, por isso, configura uma experiência individual. Por isso mesmo, apenas posso partilhar aqueles pontos que para mim têm sido os mais importantes, que acredito me têm feito conseguir atingir aquilo a que me proponho. Se serão importantes ou farão a diferença para os outros? Não sei. Acredito, como coach, que cada um de nós deve descobrir o seu potencial, conhecer os seus recursos e encontrar as suas próprias chaves para ter sucesso no que deseja. Esta são as minhas chaves…
- Saber o que quero. Descobrir o meu propósito, o que me move. Acordar de manhã sem um rumo ou algo que me faça sorrir, não é para mim. Sempre soube que queria estar ligada à educação, que era este o meu propósito, que era assim que seria feliz. Sabia que podia ser útil também, que tinha algo para acrescentar, com as minhas ideias, perspectivas, formas de ser e de trabalhar. Houve momentos em que questionei tudo, claro, em que pus muita coisa em causa. Curiosamente, foi durante estes anos de crise, de maiores dificuldades que raramente vacilei ou tive dúvidas. Senti sempre que cada vez mais o meu entusiasmo e energia eram importantes e podiam fazer a diferença. Isso também me move: fazer a diferença. Por alguém. Descobri há muito tempo que não posso mudar o mundo todo, mas posso levar alguém a descobrir o seu potencial e, dessa forma, mudar algo. Um passo de cada vez. Vale sempre a pena. O que me toca é a ligação que posso criar com o outro, saber que posso levar um sorriso, ajudar a redescobrir o encanto.
- Acreditar. Não seria capaz de trabalhar em algo em que não acreditasse. Ou melhor, seria, claro, mas seria muito infeliz, tenho a certeza. E eu quero ser feliz. Por isso escolho fazer aquilo em que acredito. Mesmo que isso implique muitas dificuldades, medos, angústias… Acredito no que faço e sou feliz por isso. E isso ajuda em tudo. Porque ser empreendedora não é fácil, há dias escuros, há muitos “não” pelo caminho. Se acreditarmos, torna-se mais leve, mais fácil de superar e de ir em frente. E penso que isso passa para quem me conhece e trabalha comigo. Costumo dizer que quem trabalha em educação tem que acreditar. Tem mesmo, devia ser um dever daqueles escritos em todos regulamentos e decretos. Senão é melhor ir fazer outra coisa, procurar algo em que acredite. Porque trabalho com crianças e jovens e tenho essa responsabilidade, de lhes mostrar que é possível, de os fazer acreditar neles próprios, de os levar a sonhar. É muito triste uma criança ou um jovem que não sonha… Está nas mãos dos adultos mostrarem-lhes que o sonho é possível, quando acreditamos.
- Aceitar e aprender que o dia só tem 24 horas. Ouço constantemente dizer que o dia devia ter 48 horas. Parece-me que o mais urgente é aceitarmos que não tem e aprender o que podemos e conseguimos fazer dentro das 24 horas que temos em cada dia. A gestão do tempo tem sido o meu grande desafio. Lutar contra a preguiça e a procrastinação são as minhas lutas e hoje sei que estou muito melhor e que consigo organizar-me de forma muito mais eficaz. Como tenho o meu filho comigo em casa, tive que aprender a aproveitar ao máximo cada bocadinho livre, durante as sestas, os momentos de brincadeira ou em que está com o pai. E não uso relógio desde que estive em África. Não me sinto prisioneira do tempo. Se me apetece paro o carro e durante 5 minutos vou caminhar, apanhar flores ou tirar umas fotografias. Não perco tempo, acrescento. É uma das minhas estratégias de preparação quando vou dar formação. Vou sempre pelo menos meia hora mais cedo e posso ouvir tranquilamente a minha música, andar devagar na rua ou conversar com as pessoas sem pressa. Acho que esta liberdade em relação ao tempo (que treino constantemente) me tornou muito mais tranquila. Tudo se faz. O que é urgente trata-se logo, o que não é não morremos por isso. Às vezes ninguém nos define um prazo e somos nós que nos torturamos com a urgência. Temos que aprender a controlar o tempo, ao invés de sermos controlados por ele. É uma questão de definir prioridades e de saber que também temos que cuidar de nós (e dos nossos) para estarmos bem e podermos dar mais aos outros. Quando enchemos o nosso tempo com coisas boas, que nos fazem sentir bem e respirar, temos muito mais para dar aos outros.
- Investir nas soluções. Estamos muito focados nos problemas, passamos muito mais tempo a carpir mágoas do que a pensar soluções. Temos que inverter esta lógica. Conhecendo a realidade (e é fundamental conhecer bem a realidade da área em que estamos a trabalhar), sabendo os riscos, o que posso fazer? Que recursos possuo para lidar com eles? E focar-me aí, no positivo, na solução, procurar alternativas e ter sempre um plano B e até C. Porque nem sempre tudo acontece como planeamos e é importante ter outras possíveis soluções que não nos deixem sem resposta ou numa situação de desespero. Quando conseguimos fazer isto inicialmente, é mais fácil e ganhamos até muito mais tempo posteriormente.
- Ser coerente. Para mim este é um aspeto essencial, ainda mais em educação, mas acredito que em qualquer área. Ser coerente, para mim, é estar alinhada entre o que acredito e quero e o que e como faço. Quando isto acontece, tudo flui de forma tão natural que as pessoas sentem. Como é que eu posso estar a dizer, por exemplo, que o mais importante é a relação, se não crio relação com o outro, se não saio de mim para ir ao seu encontro? A coerência para mim é extremamente importante, porque é ela que leva à confiança e ao respeito pelo que somos e pelo que fazemos.
Mafalda Branco
Psicóloga, Coach e Formadora
Do outro lado do Espelho