Muitas vezes perguntam-me “O que é isso do Sonhadorismo!?”. Melhor ou pior lá explico que tem que ver com a capacidade de empreender os nossos sonhos, com o acreditar que quando se quer muito uma coisa ela acontece. No entanto Sonhadorismo é antes de mais uma atitude perante a vida, de seguirmos os nossos instintos, conectarmo-nos com as pessoas e os meios que nos estimulam, e deixar que a nossa vida seja guiada pelos felizes acasos, que mais não são do que o resultado dessa nossa atitude.
Há alguns meses atrás, decidi ouvir um podcast de um dos meus programas de rádio favoritos, a prova oral. Ao seleccionar o dito programa o tema “unschoolong” saltou-me á vista. O programa tinha como “personagem principal” o movimento Unschooling e a sua promotora Agnes Sedlmayr, que desde o primeiro momento me surprendeu pela paixão como defendia aquele, que considera ser o melhor sistema de ensino para as nossas crianças. Durante o programa dei conta do primeiro feliz “acaso” Agnes vivia perto de Coimbra, ou seja a poucos minutos de um possível encontro. Terminado o programa decido enviar-lhe um email, ao qual dias depois me responde, com o mesmo entusiasmo e paixão que a tinha ouvido na rádio. A pouco tempo de ser mãe, diz-se com pouca disponibilidade para um encontro imediato, mas decide partilhar comigo outro feliz “acaso” (e vão dois), a sua avó tinha sido ela própria um tremendo exemplo de Sonhadorismo. Desafio-a a partilhar essa história de família.
O que se segue é o testemunho fantástico de uma mulher que nunca desistiu dos seus sonhos e aos 60 anos decidiu sem saber ser uma embaixadora do Sonhadorismo........
Anna Sinkovicz-Ajkai viveu em Budapest, na Hungria, nos tempos dificeis do comunismo. Teve 6 filhos e trabalhou como costureira, carpinteira e em fábricas, para os conseguir sustentar. Contava que por vezes a fome era tanta que ela subia ao telhado do prédio comunitário em que morava, para caçar pombas para comer! Anna foi uma mulher com muita força de vontade. E com o sonho de um dia poder pintar, ideia inaceitável no mundo de escassez, trabalho árduo e controlo político em que se vivia. Mas com 60 anos, com os filhos independentes e divorciada, Anna decidiu pegar em tinta, pincel e tela e começar a pintar! Foi melhor do que ela estava à espera! Rapidamente o seu amor por árvores e o seu simbolismo, ganhou forma em inúmeros quadros a óleo, mas essencialmente em desenhos com tinta da China. Nos seus quadros, Anna representava a vida e o destino através de árvores; muitas vezes desenhava arvores que simbolizavam acontecimentos ou percursos de vida de amigos e familiares. Nunca mais parou de desenhar e pintar! Ficou conhecida na Hungria pelos seus imensos quadros, todos em torno da temática da vida e do destino, simbolizados pela árvore. Editou livros, vendeu quadros e fez exposições em diversas galerias de arte. Os seus ultimos 20 anos de vida foram marcados por uma criatividade e produtividade incríveis. Sentiu se feliz e realizada até ao ultimo momento da sua vida!
Valeu a pena seguir o seu sonho...
Rui Loureiro
Sonhador, Professor, Gestor de Projetos
http://www.sonhadorismo.pt