Os vários papéis da mulher na peça Marilyn de Joana Vasconcelos

Quem não se lembra da célebre exposição da artista portuguesa Joana Vasconcelos no Palácio Nacional da Ajuda? A propósito da sua peça Marilyn, declarou ao El País o que a inspirou na criação destes gigantes sapatos feitos de tachos: “o desafio era traduzir a imagem da mulher contemporânea, que assume vários papéis em simultâneo; mãe ao pequeno-almoço; empresária, ao almoço, e à noite veste-se para ir ao teatro ou a um cocktail. Apenas agora a mulher assume tantos papéis ao mesmo tempo. Antigamente tinha um, ou no máximo dois. Agora é frequente assumir três no mesmo dia. Como falar desta complicação de papéis? Bom, representámo-la com um sapato, claro; e o cocktail? com um salto agulha; faltava a dona de casa. O símbolo era um tacho. Podia ter escolhido um mais pequeno, mas escolhi o que tem uma linguagem universal, o do arroz, e que existe em todas as culturas. E para expor tudo, o sapato ganhou uma dimensão gigantesca, mas se me perguntar quantos tachos tem ou quanto mede o tacão, não sei, não me interessa. Preocupa-me se o objecto transmite a ideia, se comunica com quem o vê; uma comunicação física, que ao aproximarmo-nos do sapato algo aconteça; é essa a minha preocupação. Não é o tamanho que causa impacto, a este chega-se de outra forma: através da cultura e preocupações das pessoas. Isso não se consegue com dimensões, mas sim com emoções e com fisicalidade. Se me falar de escala, direi que não é essa a palavra, mas sim fisicalidade. A comunicação dos corpos faz-se através das emoções.”, 

Joana Vasconcelos_Sapatos