Teresa Vaz e Maria Ramalho
Valores: Olhar a beleza à nossa volta, reparar nas suas subtis surpresas e tentar nela participar. Isto por si só é um programa de vida. Naturalmente que não nos estamos a referir apenas a aspectos estéticos.
Naturalidade: Porto
Idades: 61 e 33 anos
Peças de cerâmica feitas manualmente, que evocam outros tempos. A olaria tradicional serviu de inspiração a esta dupla criadora. A apresentação é feita na primeira pessoa: “Somos mãe e filha, pertencemos a gerações com experiências diversas. A CaCo é fruto do encontro dessas existências, com práticas diferentes mas com pontos em comum”.
Eu, a Teresa, sou arquitecta, desenho tapetes, fiz colecções têxteis lar, mobiliário e outros objectos. Tenho também formação em dança e dei aulas muitos anos. Desenhei espaços cénicos e roupas para coreografias. E gosto muito de escrever.
Eu, a Maria, sou designer de interiores. Exerci no Porto e em Lisboa, projectos e venda ao público de marcas internacionais de design. Trabalhei em cinema, no guarda roupa e decor.
Os Verões da minha infância e juventude foram, em parte, passados numa quinta em Galegos, zona de Barcelos onde existem as olarias. Um dos programas obrigatórios dessas férias eram as visitas às fábricas e olarias de cerâmica, onde se produzia a loiça tradicional da região, vidrada e levantada na roda, e às pequenas oficinas, onde artistas / lavradores faziam os ‘bonecos’ pintados à mão, em cores muito variadas e alegres. A produção desses artistas contemplava também as crianças, com pequenas loicinhas e bonecos para brincar, animais, músicos, figuras para o presépio, bonecas de embalar, etc.. Foi deste gosto que trouxe da infância, dessa lembrança cheia de bonecos coloridos e loicinhas vidradas, a castanho, verde e amarelo, que trazíamos felizes dentro de cestos com palha, que, certo dia, eu e a minha filha resolvemos experimentar o nosso desejo de criar cerâmica. O resultado deixou-nos bastante entusiasmadas e com vontade de fazer mais.
Nós desenhamos as peças, o oleiro levanta as peças à nossa frente e conforme as levanta nós fazemos ajustes para ficarem exactamente como queremos. Depois de secas, as peças são vidradas, normalmente com duas cores, uma por fora e outra por dentro, às vezes com desenhos. Os vidrados não têm químicos, as nossas peças além de decorativas podem ser utilizadas para cozinhar, ir ao forno e até ir à máquina de lavar. Por último vão ao forno. Todo este processo é feito manualmente, com as técnicas tradicionais de olaria. Apesar de ser uma técnica tradicional conseguimos fazer encomendas de grandes quantidades. Quando estão prontas vão para a nossa loja ou são enviadas para clientes para revenda.
Não consideramos que tenha sido complicado arrancar com o projecto, porque foi algo gradual, foi crescendo. As maiores dificuldades foram acertar com os oleiros, as surpresas das saídas do forno e arranjar lojas para venderem as nossas peças. Neste momento é um projecto a tempo inteiro para mim e em part-time para a minha mãe.
A inspiração vem das nossas vivências e experiências particulares. Do olhar atento ao mundo que nos rodeia, tentando captar relacionamentos possíveis, inventando, experimentando, desenhando, sonhando… Mas os mecanismos de criação são por vezes tão subjectivos e insondáveis, que é preferível dizer que é a nossa capacidade crítica conjunta que exerce uma feroz restrição a todas as possibilidades que vamos arquitectando.
Não fazemos exactamente colecções, pelo menos para já. Sempre que precisamos de mais peças aproveitamos para experimentar novos modelos e novas combinações de cores.
As pessoas gostam muito do carácter moderno das peças, da conjugação das cores e, ao mesmo tempo, do facto de serem feitas à mão. As nossas peças são um encontro, que pretendemos feliz, entre o modo de fazer antigo e um olhar moderno que evoque uma continuidade nesse saber fazer. No desenho, no levantar da peça na roda e, finalmente, na combinação e acabamento das cores.
Tínhamos necessidade de ter um espaço que funcionasse como armazém, showroom e escritório. Entretanto apareceu a possibilidade de fazer uma candidatura para as novas ‘galerias’ Lumiére. Ao sermos escolhidas, temos agora um mini armazém / showroom / escritório e loja!
Os planos para o futuro passam por nos tornarmos umas empreendedoras de sucesso! Para isso temos que apostar mais no mercado internacional. É esse caminho que torna a CaCo sustentável. Sentimo-nos realizadas!



Photo © Mafalda Pessoa Jorge